Maduro e o governo de transição: prenúncio de conflito armado?

A fronteira Brasil/Venezuela foi fechada por ordem do presidente Nicolás Maduro.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro tenta, a todo custo, evitar a entrada de gêneros alimentícios e remédios da ajuda internacional no território do seu país. A medida é óbvia: com a ajuda humanitária o seu governo perde poder e prestígio interno, e sucumbe à interferência externa. Maduro nega ainda que haja uma crise humanitária na república bolivariana.

Na fronteira Brasil/Venezuela o patrulhamento e vistorias em carros brasileiros foram intensificados nos pontos de controle. Os militares do Exército e da Guarda Nacional dizem que procuram por gêneros alimentícios e remédios, que não podem entrar no país. Na semana passada a fronteira chegou a ser fechada, conforme postou numa rede social o carreteiro Wilson Hendges.

A ditadura bolivariana tenta ganhar tempo, a tempo de fazer água na tentativa de um governo paralelo de Juan Guaidó. Outra alternativa seria a prisão pura e simples do autoproclamado presidente provisório, o que pode acirrar os protestos da comunidade internacional que reconhece a sua autoridade de transição – inclusive o Brasil – e da própria população que o apoia.

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Em outubro de 1983 os Estados Unidos e aliados invadiram a ilha de Granada, na América Central, com cenas dignas de filme do Francis Ford Coppola. Imagem: Wikipédia.

Não cremos que haja uma intervenção militar direta dos Estados Unidos na Venezuela, do tipo que ocorreu na ilha de Granada em outubro de 1983. O mais provável é que a inteligência estadunidense insufle uma revolta militar interna, e mesmo financie uma insurreição a partir de militares venezuelanos já exilados – embora, como já afirmou Donald Trump, nada esteja descartado.

Neste sentido, tenho profundas dúvidas quanto a uma reação materialmente mais efetiva da Rússia e China, ante possíveis ações militares dos países americanos no governo chavista, embora o bolivarianismo represente uma oportunidade real da implantação de bases russa e/ou chinesa na América, justamente em um ponto geograficamente estratégico. Esta matéria chegou a ser pauta de conversas entre o governo petista de Dilma Rousseff e porta-vozes de Vladimir Putin.

E porquê não acreditamos numa reação material efetiva da Rússia e China ante uma intervenção militar por aliados americanos na Venezuela? Primeiro porque a coisa assumiu uma dimensão supra continental: além de países americanos, o parlamento europeu e vários países da Europa já reconheceram o governo provisório de Guaidó. Segundo porque a Venezuela é um país americano: nosso continente, nosso hemisfério – sim, porque o Brasil ocupa tanto o hemisfério sul, quanto o hemisfério norte. Ou seja: espécie de pacto internacional de predomínio do interesse regional. Há ainda o fato de que a Venezuela, embora todo o petróleo estocado, não vale um conflito armado entre potências que podem destruir o mundo, literalmente – todo o petróleo venezuelano pode ser comprado pelos países interessados. Sai mais barato e menos danoso do que uma guerra. Enfim, querendo estar redondamente enganado, a proposta de diálogo e consenso entre o chavismo e a oposição nos parece a mais improvável.

De qualquer forma, vamos torcer e rezar para que a queda iminente de Maduro e o seu regime narco-traficante-social-bolivariano se dê com o mínimo de prejuízo material e, sobretudo, humanitário para todos nós americanos e, principalmente, para o povo venezuelano, já tão terrivelmente massacrado. O pior é que nesse mar de incertezas, enquanto estamos finalizando este artigo, Guaidó pode estar sendo preso, assassinado, ou o próprio Maduro estar sofrendo um atentado do “fogo amigo”. Tudo é possível.

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