Eleições 2018 – Mecias de Jesus

Mecias: foro privilegiado só para casos relacionados ao cargo, desde que não seja contra o patrimônio, contra a sociedade. Foto: Zeca Barcellos.

 

O deputado estadual Mecias de Jesus (PRB) nasceu em 1962 em Graça Aranha, no estado do Maranhão. Pouco tempo depois a família mudou-se para Carrasco Bonito, então estado de Goiás, hoje Tocantins. Aos 12 anos de idade vieram para Roraima. Em dezembro de 1974 a BR-174 ainda não havia sido concluída, e a família viajou seis dias de barco de Manaus até Caracaraí. Depois de uma curta temporada na sede do município foram para Novo Paraíso. Em seguida, para São João da Baliza, em caráter definitivo, que na época pertencia ao município de Caracaraí. É cunhado de João Pereira Silva, fundador do Baliza. E diz com orgulho: “Nós fomos fundadores de São João da Baliza!”

Conta que desde criança trabalhou com o pai na roça para ajudar no sustento da família. No Maranhão quebrava coco babaçu. “Em Roraima só não tinha babaçu, mas continuei trabalhando na roça até 1979, quando, sozinho, me mudei pra Boa Vista”, onde foi jardineiro, garçom, picolezeiro, até que conseguiu um emprego de mensageiro no Palácio do Governo, depois promovido a protocolista. Após servir o Exército no município de Bonfim retornou ao Baliza, onde foi gerente da CAER – Companhia de Águas e Esgotos de Roraima, diretor do Hospital, secretário de Finanças, executor do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Em 1990 candidatou-se, pela primeira vez, a deputado estadual, sendo eleito.

Em 2010 você teve a candidatura ao Senado barrada. Em 2018 o páreo está garantido?

Desde que fui candidato a vereador pela primeira vez em de São João da Baliza, eu mantive o sonho e o projeto de ser deputado estadual. Logicamente,  todo deputado estadual tem o projeto de ser senador da República ou  governador do seu estado. Em 2010 eu estava preparado, como estou agora, para ser candidato ao Senado. Infelizmente, eu não tinha um partido especificamente nosso, sob o nosso controle. O controle do partido, do PR, era de outras pessoas, e terminaram me tirando o partido, não me deixando ser candidato ao Senado. Foi quando, na oportunidade, nós lançamos Jhonatan de Jesus como candidato a deputado federal e, graças a Deus, ele foi eleito e já está no segundo mandato. Em 2010, quando me tiraram a oportunidade de ser candidato ao Senado, eu mantive de pé a minha esperança de que em 2018 eu seria Senador da República. E nós temos mantido isto. Já fizemos o lançamento oficial da candidatura, com a presença do presidente nacional do nosso partido, senador Eduardo Lopes do Rio de Janeiro, e o ministro da Indústria e Comércio, Marcos Jorge, reunindo mais de sete mil pessoas no CTG.

Qual a sua plataforma de atuação no Senado?

Eu quero resgatar pra Roraima o que Roraima tem perdido ao longo desses anos. Eu sei de toda a magnitude de um Senador da República, mas eu quero dedicar todo o meu tempo pra Roraima, pois apesar de senador ser um cargo federal, Roraima tem que ser em primeiro lugar, pois estamos atrasados em relação aos demais estados. Por exemplo: somos o único estado que não é interligado ao sistema nacional de energia elétrica. E se, há 18 anos atrás, conseguimos trazer energia de um outro país pra Roraima, por que não podemos trazer de Manaus pra cá, que é dentro do nosso país?

Geração de emprego: a gente só vai gerar emprego se fizer o nosso estado produzir. E pra produzir precisamos ter energia de qualidade, terras documentadas em nome dos produtores. Precisamos ter a nossa ZPE (Zona de Processamento de Exortação) funcionando, porque não podemos continuar produzindo aqui e mandar pra Itacoatiara, no Amazonas, pra Itacoatiara mandar aqui pra Venezuela.

Com estão sendo amarradas as alianças políticas?

As alianças ainda vão demorar um pouco. Faltam seis meses para as eleições, e as convenções são de 20 de julho a 5 de agosto. Ou seja, daqui pra lá tudo ainda pode acontecer. Não tem nada definido até agora. O que tem definido é que temos candidato a deputado federal no nosso partido, candidatos a deputados estaduais e um candidato a senador.[1]

Enquanto deputado estadual, como está a sua relação com a governadora Suely Campos, considerando que essa relação refletirá na campanha, evidentemente?

A minha postura como deputado estadual nunca foi e nunca será diferente da que é hoje. Por exemplo: eu fui adversário do Anchieta (ex-governador Anchieta Júnior) durante seis anos, e fui presidente da Assembleia, nesse período. Mas, em nenhum momento, atrapalhei os projetos que o Anchieta mandou pra Assembleia. Por quê? Cabia à base dele, ao governo dele, definir o que era importante para o Estado. Então, o que mandaram para a Assembleia que eu concordava, eu votei favorável. O que eu não concordava, eu votei contra. Mas não atrapalhei, enquanto presidente da Assembleia, o andamento dos processos. A mesma posição mantenho em relação à governadora Suely: todos os projetos que ela mandou para a Assembleia Legislativa, que eu concordei, votei favorável. E vou votar favorável aqueles que considerar bons para o Estado, pois não posso ser um deputado que fica atrapalhando o governo.

Mas você continua na base aliada?

Embora da base do governo, eu me coloquei contra várias coisas que eu considero erradas. Por exemplo: o tratamento que é dado aos terceirizados, que são servidores do Estado, pois o Estado contrata as empresas e as empresas contratam os servidores. O devedor desses servidores não são apenas as empresas. O Estado também é devedor desses servidores, porque se o Estado não paga as empresas, as empresas não têm como pagar os servidores. Há outras situações em que eu acho que o Estado deveria estar bem melhor, como na Segurança, na Saúde e na Educação. Eu não fico aplaudindo o Estado naquilo que eu considero errado. Tem gente que acha que eu não gosto do governo, que sou adversário, pelo fato de dizer à governadora algumas coisas que eles não gostariam de ouvir. Mas que aliado é esse que só bate palma? Eu não sou assim. Eu fui eleito deputado para defender as pessoas.

Voltando ao Senado. O voto do senador de Roraima tem o mesmo peso do senador de São Paulo, Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. Em Roraima nós temos dois grandes problemas, um agravado pelo outro: a Segurança, que se agravou com a imigração venezuelana. Qual sua proposta de ação no Senado sobre tais questões?

A situação dos venezuelanos em Roraima é vergonhosa. Primeiro que chegou a um número descabido. E há um ano o deputado federal Jhonatas de Jesus fez um pronunciamento na Câmara e foi pessoalmente aos ministros da Justiça, Casa Civil e da Defesa, informar o que estava acontecendo, e que se não fossem tomadas providências rápidas Roraima chegaria a um caos. Eu fiz o mesmo pronunciamento aqui. Conversei com a governadora e o secretário de Segurança, na época, sobre este fato. Ocorre que a fronteira é competência federal. E o governo federal fez corpo mole, inclusive com o agravante de propostas, de determinadas pessoas, de arrumar a vida dos venezuelanos aqui, como o aluguel social e outras coisas, o que aumentou a enxurrada de gente pra cá. Isso agravou a situação da Educação, agravou a Saúde e, de forma sistêmica, agravou a situação da Segurança no nosso Estado. Hoje, 60% dos chamados pra atendimento de polícia é em decorrência de venezuelano. E o pior: a polícia prende e eles são soltos em seguida. Eu entendo que a fronteira deve ser fechada, não pra entrada e saída, mas pra controle: “Você vai fazer o quê? Vai ficar quanto tempo?” Fazer cadastramento dessas pessoas, com prazo de permanência de 15 dias – como fazem na Venezuela, quando a gente vai pra lá. E o que é mais vergonhoso de tudo: temos uma fronteira com outro país aberta, que entra quem quer, e a maldição de uma corrente no nosso país que não nos permite ir a Manaus na hora em que queremos! Dentro do nosso próprio país a fronteira é fechada para os roraimenses. E resolver este problema é obrigação de um senador da República.

E quanto ao asfaltamento da rodovia para Georgetown como alternativa de porto para escoamento de produtos brasileiros?

A alternativa ainda é a Venezuela, que já tem estrada asfaltada. São mil quilômetros pra um porto com água profunda. Pra Guiana, no meu entendimento, é mais uma imoralidade que foi feita pelo governo do PT, que tirou dinheiro dos brasileiros pra investir em Cuba e outros países de alinhamento ideológico. Por que não usam esse dinheiro para asfaltar as vicinais do interior do Estado, pra alavancar a produção local? E aí nós podemos exportar via Venezuela. Roraima vai ser um estado rico em pouco tempo.

Você tem em vista alguma proposta de emenda constitucional, uma vez eleito senador?

A minha proposta de emenda constitucional é que o governo federal tenha obrigação de 18% em Saúde, como é aqui no Estado de Roraima. Aqui eu apresentei uma proposta de emenda constitucional aumentando de 12% pra 18% do orçamento em Saúde[2]. E o limite de transferência de recursos do SUS é insignificante. Eu quero aumentar esse limite para os estados.

Eu sou autor do projeto de lei no Estado que proíbe a reprodução da ideologia de gênero nas escolas públicas e privadas do Estado de Roraima. E eu já fiquei sabendo que tem gente se mobilizando. O Ministério Público Federal vai entrar com uma ação de inconstitucionalidade contra esse meu projeto de lei. Ora, eu não tenho nada contra a opção sexual de nenhuma pessoa. Eu não quero é que as escolas brasileiras, em especial do Estado de Roraima, sejam palco pra falar de sexo pra criança de 6, 8, 10 anos de idade. Tem as faculdades! Lá se pode falar qualquer coisa, as pessoas já são de maior, com a consciência formada.

Vou ainda retomar a questão da redução da maioridade penal. É um tema pesado! Vou retomar a proposta de redução para 16 anos e, em alguns casos, 14 anos. Os adolescentes hoje já não são simplesmente usados pelos adultos, são protagonistas. Isto não é culpa apenas dos pais. O governo tem a grande parcela da culpa, mas o Brasil não pode continuar abrindo as portas para o crime. Se não houver pena, a criminalidade vai continuar crescendo. A redução da maioridade penal é instrumento de controle do comportamento da sociedade. Se o jovem de 16 anos sabe que se cometer um crime nada vai acontecer com ele, vai cometer o crime!

E quanto à prisão após a segunda instância, qual a sua posição?

Eu fico com a Constituição: ninguém é considerado culpado enquanto não tiver sentença transitada em julgado. Mas sou contra o foro privilegiado para todos os casos. Entendo que deve ser aplicado em situações específicas do cargo, desde que não seja um crime contra o patrimônio, contra a sociedade. Você assaltar os cofres públicos e não poder ser processado, não poder ser condenado, não poder ser preso, porque tem foro privilegiado, isso eu sou totalmente contrário.

E quanto ao estatuto do desarmamento?

Particularmente, eu entendo que o estatuto do desarmamento desarmou a sociedade, o cidadão de bem, desarmou a família, e manteve os bandidos armados, porque bandido não compra arma registrada. Um pai de família não pode ter uma arma dentro da sua casa, mas o bandido tem na casa e tem na rua. As pessoas não têm mais segurança em suas casas e não podem ter uma arma para defender seu patrimônio, sua família. Então vira alvo fácil de bandido, pois ele chega na sua casa e sabe que você não pode ter uma arma pra se defender. Antigamente quando o bandido invadia uma casa, dizia saber que ia pra matar ou pra morrer. E se ele souber que a chance que tem pra matar é a mesma que tem pra morrer, vai pensar duas vezes. Mas hoje ele só pensa que vai matar, pois a chance de morrer é mínima. Os Estados Unidos, onde o uso de armas é livre, tem índice de morte por arma de fogo cinco vezes menor do que o Brasil.

[1] Em escala federal o PRB tem candidato próprio à Presidência da República: o empresário Flávio Rocha.

[2] O art. 198, § 2o, I, da CF/88 estabelece aplicação em ações e serviços públicos de saúde em 15% da receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, conforme emenda constitucional n. 86 de 2015.

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