A morte

Tenho refletido um pouco acerca da morte. Apesar da minha formação espírita, tenho cá minhas muitas dúvidas sobre o tema. Outro dia fui ao cemitério municipal. Passeei entre os túmulos, enquanto conjecturava sobre as aflições que tenho enfrentado ultimamente. Encontrei de muita gente conhecida, amigos que já desencarnaram. Homens públicos, inclusive Ottomar Pinto. Pessoas com quem eu deveria ter me relacionado de mais perto e perdi a oportunidade. Outras que encontrava nos botecos da vida. E ainda um ex-aluno meu, jovem empresário. Tão jovem mesmo. A única certeza que temos na vida: a morte. É, portanto, algo natural, tão natural quanto o nascimento.

A gente morre e tudo acaba. Ou não? Nunca fui ligado ao aspecto mediúnico da doutrina espírita, nem no religioso. Mais no filosófico. Talvez pela minha falta de fé. Mas é certa a existência de universos invisíveis aos olhos. Exemplo? Estou escrevendo num espaço virtual, que não existe, do ponto de vista físico. Pertence ao mundo subatômico, ao mundo das partículas.

E aos 53 anos, já com menos areia na parte de cima da ampulheta do que na de baixo, o que mais me incomoda é a mediocridade da minha vida. Já paramos pra pensar o quanto vivemos mediocremente? Poucos são os que se rebelam contra esse comodismo que o conjunto de circunstâncias ambientais nos proporciona. Ernest Hemingway é um exemplo de vida que fugiu à mediocridade da vida, inclusive na morte. Teve coragem pra viver a vida que escolheu. E coragem pra morrer quando quis. Ou quando cedeu à depressão, ante os problemas de saúde e limitações físicas e mentais impostas. Mas é preciso coragem, de qualquer forma. Coragem pra pagar o preço cobrado pela vida que se quer viver.

Sob este aspecto, a morte pode não ser a pior escolha. Viver morrendo devagarzinho talvez seja pior, pois não se vive como se queria, e acaba-se morrendo, de qualquer forma. Aliás, a morte não admite escolhas. Ela vem e pronto! De um jeito ou de outro, quer estejamos na Suíça, como o Paulo Coelho, ou no Rio de Janeiro enchendo a cara, como Raul Seixas. Podemos morrer de infarto fulminante, a qualquer tempo. Ou ter derrame e passar anos na cama, definhando aos poucos. Ou ainda ter um câncer e morrer em meio a um inferno de sofrimento que rezamos pra acabar logo. Atravessar uma rua e ser atropelado… A morte tem as suas mil e uma facetas. Mas sempre vem. Por que então se preocupar com ela? Enfim, não creio que seja com a morte que me preocupo, mas com a vida que tenho, a vida que levo. Esse é o problema.

3 comentários em “A morte”

  1. A morte é a possibilidade, então qual mesmo o sentido da vida? Hoje fico imaginando, como perdemos tempo em projetos futuros… seria esta a mediocridade que você cita? Se as pessoas parassem por um momento, e fizessem uma projeção de projetos para 10, 20, 30… Anos, sentiriam o abismo que existe no caminho, não somos donos de vidas futuras, talvez quem sabe, do agora…
    Tenho pensado, que o segredo da vida, é fazer o que gosta, se traz retorno financeiro? Ótimo, se não, do quê precisamos mesmo para viver? Utilizando uma frase de um sujeito, em um vídeo que asssiti:
    – Se o sentido da vida fosse acumular bens, ao morrer, levaríamos tudo.
    E quanto à “vida” importante, parafraseando, “talvez você não sinta um alguém no mundo, mas com certeza, é o mundo de alguém”. Se nos servimos de sentimentos simples para melhorar nossa vida, então, porque perder tempo com coisas complexas?
    Valeu, Assis Cabral!

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    • Meu amigo Edson Paiva, a mediocridade a que me refiro é essa rotina de levantar todos os dias pra comprar pão, tomar café, levar os filhos pra escola, ir pro emprego – não necessariamente trabalho -, pegar os filhos na escola, almoçar, voltar pro trabalho, ou perder as tardes com futilidades, e dormir à noite para uma nova mesmice no próximo dia. E o pior é que não mudamos por medo, pois trabalhamos pra isso, pra ter essa “estabilidade”: fomos à escola, parte de nós foi pra faculdade… e qual o sentido de tudo? A maioria de nós trabalha só pelo salário. E quando o salário não supre as necessidades? Não temos ânimo pra fazer outra coisa, pois nos perdemos no comodismo, ficamos esperando a aposentadoria chegar, pra começar a viver. Quanto a uma vida pela conquista do dinheiro e poder, creio que deva haver um equilíbrio, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar. Ter uma carreira profissional e não se realizar financeiramente é semelhante a seguir uma carreira só pelo dinheiro, sem outra realização satisfativa.

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