Jô Soares se foi. Chico Anysio se foi. Maria Dahl, James Caan, Ilka Soares, Dalmo Dallari, Lygia, Jabor, Olavo de Carvalho – esta lista é exemplificativa. Todos fizeram as nossas vidas mais cultas, suaves, com suas artes, suas interpretações, seus textos. Mesmo o polêmico Olavo, com quem tinha divergências, mas não o endemoniava. Todos personagens que fizeram, fazem e farão parte das nossas vidas – pelo menos da minha geração. Sim, essas pessoas que conhecíamos à distância, na verdade eram personagens. Algumas protagonistas de si mesmas, outras, personagens que incorporavam personagens. Afinal, a vida é um grande palco e somos todos atores que interpretamos a nós mesmos, em nossas várias facetas. Somos todos insubstituíveis! Rápida e facilmente esquecidos.
A pandemia da COVID-19 não foi a maior que o nosso planeta já enfrentou, em termos de contágios e vítimas fatais. Mas foi a que eu vi acontecer. E ainda está acontecendo, embora em menor escala. E foi a partir da pandemia que vi, na prática, o quanto a vida é etérea. Como agora sopra em nossas narinas, e em instantes o fôlego se esvai. E é nesse dia a dia de obituários que me convenço da estupidez do ser humano que pensa que sabe que sabe.
Fugindo do aspecto religioso, de crença, de fé, mas atentando para o aspecto filosófico, confirmei que a maioria de nós, as nossas existências, são essencialmente medíocres. Nos limitamos simplesmente a nascer, crescer, amadurecer, encontrar meios de sobrevivência, reproduzir, sobreviver envelhecendo até quando dá, e então morrer.
A rede mundial de computadores tem demonstrado isso. Amigos próximos, inteligentes, dedicados aos estudos, com projetos factíveis de morar em Portugal, Estados Unidos, mudar de ares, usufruir do patrimônio construído e da boa aposentadoria, após décadas de lutas… simplesmente se foram! Alguns nem foram vítimas do SARS-COV-2, mas de câncer, coração, AVC, diabetes. Foi a proximidade e acúmulo desses óbitos que me tocaram, e ainda tocam, a consciência.
Todos os nomes elencados no início deste artigo deixaram um legado. Mas eu e a maioria de nós, leitor, somos como bolhas de água fervendo – parafraseando Machado.