Reza a lenda que enquanto os Estados Unidos pressionavam o Brasil para entrar na Segunda Guerra Mundial, devido à sua posição geográfica estratégica, Getúlio Vargas ironizava: “É mais fácil a cobra fumar cachimbo”. A pressão aumentou, inclusive com ameaça de invasão do território brasileiro pelos EUA. Após torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, atribuídos aos países do eixo, Vargas negociou financiamento para a instalação da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional – e o Brasil entrou no conflito. Após a declaração, o povo, pra não perder a piada, chacoteava: “A cobra vai fumar” – o Brasil vai pra guerra. Atribui-se ao pracinha Francisco de Paula o primeiro tiro da artilharia da Força Expedicionária Brasileira, com a inscrição no projétil: “A Cobra Está Fumando…” – o que é contestado por boa parte dos historiadores, alegando que a foto divulgada foi apenas peça promocional da campanha brasileira. O termo se refere a algo difícil de acontecer, e quando acontece traz resultados catastróficos para os atores envolvidos. Mas o fato é que nesta quinta-feira, 29, a cobra fumou aqui em Roraima.
Na Operação Escuridão da Polícia Federal, mandados de prisão, busca e apreensão, atingiram um deputado estadual eleito, empresários, servidores públicos, e o filho caçula da governadora Suely Campos, Guilherme Campos. A acusação é do desvio de R$ 70 milhões do sistema prisional entre 2015 e 2018 com o pagamento superfaturado de marmitas para alimentação dos presos, cujos proprietários de fato da empresa fornecedora seriam Guilherme Campos e o deputado estadual eleito Renan Filho. Atualmente o sistema prisional do Estado está sob intervenção federal.
Com salários dos servidores públicos das administrações direta e indireta atrasados há meses, e sem perspectiva de pagamento, o governo Suely se despede de forma lamentável e ao mesmo tempo odiosa. Por conta disso, a cobra fumou ainda com a governadora no poder. Supomos que este caso seja apenas a ponta do iceberg, pois há diversas evidências de domínio popular dando conta de dano ao erário, a exemplo do “desaparecimento” de R$ 3,5 milhões enviados pelo Fundo Penitenciário Federal – operações Gárgula 01 e 02.
O patriarca da família, Neudo Ribeiro Campos, governador por dois mandatos, cumpre prisão domiciliar por condenação no caso Gafanhotos, desbaratado pela Operação Tempestade do Deserto, também da Polícia Federal. Tudo indica que a família Campos, nesses três mandatos governamentais: dois do patriarca e um da matriarca, fez muito e paga no barato. Esperamos que a fumaça do cachimbo da cobra alcance o presente e o passado, os culpados sejam punidos e os cofres públicos ressarcidos.