Desde as últimas segunda e terça-feira os roraimenses têm se debatido contra a decisão prévia do presidente Jair Bolsonaro em não fechar as fronteiras do Brasil com a Venezuela e Guiana, por força da pandemia do COVID-19. No final da terça-feira, afinal, o chefe do Executivo federal decidiu pelo fechamento parcial da fronteira com a Venezuela, liberando apenas para o tráfego de mercadorias. Contudo, ao que pudemos avaliar das notícias divulgadas na imprensa nacional e local, apenas a fronteira com a Venezuela foi parcialmente fechada, ficando para livre trânsito a fronteira com a Guiana, que também deve ser fechada. Isto demonstra mais uma vez o que diz a canção interpretada por Elis Regina – que, aliás, ontem estaria completando 75 anos: “O Brasil não conhece o Brasil”.
estado de Roraima
A inexorável efemeridade da vida – umas histórias da Boa Vista antiga
Gosto muito de imagens antigas, estáticas e em movimento. Gosto de músicas antigas. Às vezes sou tomado por nostalgias – isto mesmo: nostalgia no plural. Parece que vivi em várias épocas, em muitas épocas. Todas as épocas. E todas essas épocas às vezes parecem transpassar minha mente, num fluxo e refluxo.
Nasci em 1965 na cidade de Boa Vista, antigo Território Federal de Roraima, e muito, muito pobre. Vivíamos quase na idade média, naquele tempo. Sou da lamparina, do farol, da água tirada do Rio Branco, das lavagens de roupa no cais, no igarapé do Caxangá ou no igarapé do Pricumã. Eram os locais onde a minha avó lavava roupa, ela própria lavadeira profissional por um bom tempo, além de costureira. Criava galinha do quintal. Pato, porco, eventualmente cabrito. Fogão a lenha. Tinha o fogão grande, com chapa de ferro – onde a gente colocava a bunda da tanajura pra assar. E tinha o fogareiro, onde usava-se graveto e querosene para fazer o fogo do carvão pegar. Água dos potes – a minha avó tinha dois e uma bilha. Dos potes, ela achava que o de barro escuro era o que mais gelava. A água era retirado pelo púcaro, sempre bem ariado com areia – desculpem o pleonasmo – ou folha de caimbé.
A morte do rato e a execução da Fazenda
Era uma grande e produtiva fazenda, com o mais rico dos solos. Os animais convivam em harmonia, fartura e bonança. Todos os dias o dono jogava milho pra galinha, punha restos pro porco, sal pro boi e pasto não faltava pro cavalo.
Até que um dia o rato comeu algo envenenado e começou a se contorcer. Alimentados e felizes, os outros bichos não deram a mínima, enquanto o dono da fazenda ignorava o fato.
A cobra, vendo aquele petisco, resolveu fazer uma boquinha e engoliu o rato envenenado. Logo a cobra também entrou em agonia, e os animais não se importaram. A galinha foi bicar o milho, o cavalo saborear capim, o boi se empanturrar de sal, e o porco fartar-se no babujo.
Desesperada e sedenta, a cobra corre até o camburão d’água, no momento em que a mulher do dono da fazenda resolve lavar roupa no giral. Ao enfiar a cuia na água, é mordida pela cobra. Aos gritos de dor e atordoada pelo envenenamento, a mulher é levada pelo marido no cavalo à galope, que cai na ribanceira e sofre fratura exposta. A mulher também tem sangramento e o seu sangue se mistura ao do cavalo, que morre envenenado. Na queda, o dono quebra o pescoço.
Na fazenda não ficou mais ninguém pra dar milho à galinha, sal pro boi, babujo pro porco. Em breve as pragas daninhas tomam conta do solo. A galinha e o porco morrem de sede e fome, e um ladrão abate o boi. Como ninguém pagou a hipoteca da fazenda, o imóvel foi executado pelo banco.
Moral da história: se alguém tivesse feito algo na morte do rato, todos ainda estariam vivos e a fazenda bela e produtiva. Foi assim que aconteceu na gestão Suely Campos: desde sempre se ouviu falar de malversação do dinheiro público e que o Estado virara um balcão de negócios; assunto pra Polícia Federal e Ministério Público.
Então o governo não pagava as terceirizadas; mas os salários dos servidores estavam em dias e ninguém se importou. Depois não estavam repassando o dinheiro dos consignados, nem do IPER (Instituto de Previdência). Com os salários em dias, tudo bem, uma hora vão ter que repassar esses valores. O calendário de pagamento mudou e passamos a receber no dia 10. Até aí… beleza! Era só se adequar.
Os salários da administração indireta atrasaram: fato isolado, são elefantes brancos mesmo. Atraso dos comissionados – quem mandou não estudar pra concurso? E “de repente”… crash! Não tem mais salário pra ninguém! – e a Fazenda foi executada.
Juiz manda desobstruir entrada da SEFAZ, mas esposas de militares resistem
Até ontem, 06, o SINTRAIMA – Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo do Estado de Roraima, bloqueava a entrada ou saída de qualquer pessoa na sede da SEFAZ – Secretaria de Estado da Fazenda. Mas a PROGE – Procuradoria Geral do Estado – impetrou ação de interdito probitório requerendo que o sindicato, qualquer entidade ou e/ou pessoa física, não impeçam o acesso de qualquer servidor ou cidadão ao prédio da Secretaria, e de qualquer outro prédio do Estado de Roraima, tanto na capital como no interior do Estado, sob pena de multa diária de R$ 50 mil. O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública, Aluizio Ferreira Vieira, acatou parcialmente o pedido, determinando que “o requerido e qualquer outra entidade ou pessoa física se abstenha de impedir o acesso de servidores e usuário, tão somente à Secretaria Estadual da Fazenda Pública, (…), bem como se abstenha de turbar ou esbulhar à posse do prédio da SEFAZ”, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Por conta de tal medida, hoje pela manhã o bloqueio foi assumido pelas esposas de policiais militares e pelo SINTAG – Sindicato dos Técnicos Agrícolas do Estado.
Presidente de Sindicato do Judiciário descarta utilização de fundos para pagamento de salários atrasados
Na tentativa de encontrar uma solução para o atraso do pagamento dos salários dos servidores públicos, o presidente do SINTRAIMA – Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo de Roraima, Francisco Figueira, propõe que os poderes Judiciário e Legislativo abram mão de parte dos seus duodécimos e retirem as ações que impõem bloqueio das contas do Tesouro estadual, assim como, transfira para o Tesouro o que diz ser fundos de aplicação financeira desses poderes.
Servidores prometem paralisar o Estado de Roraima
Em meio a duas operações da Policia Federal, Escuridão e Tântalo, que investigam o desvio de recursos públicos no fornecimento de marmitas para os presídios, e de gêneros alimentícios da merenda escolar, respectivamente, levando às prisões, inclusive, do filho caçula da governadora Suely Campos, Guilherme Campos, e do ex-secretário adjunto das secretarias da Educação, Fazenda, Casa Civil, e atualmente adjunto do Gabinete Institucional do Palácio Senador Hélio Campos, Shiská Pereira, os servidores do Executivo entram no terceiro mês sem receber os salários e, o pior!, sem quaisquer perspectivas de receber. Alguns servidores da administração indireta, como CERR – Companhia Energética de Roraima, e ITERAIMA – Instituto de Terras de Roraima, já então entrando para quarto mês – 120 dias! – sem receber salários. Por conta disso, nesta terça-feira, 05, expressiva maioria das categorias de servidores públicos resolveram paralisar as atividades por tempo indeterminado, até que se resolva a questão salarial.
A cobra está fumando!
Reza a lenda que enquanto os Estados Unidos pressionavam o Brasil para entrar na Segunda Guerra Mundial, devido à sua posição geográfica estratégica, Getúlio Vargas ironizava: “É mais fácil a cobra fumar cachimbo”. A pressão aumentou, inclusive com ameaça de invasão do território brasileiro pelos EUA. Após torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, atribuídos aos países do eixo, Vargas negociou financiamento para a instalação da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional – e o Brasil entrou no conflito. Após a declaração, o povo, pra não perder a piada, chacoteava: “A cobra vai fumar” – o Brasil vai pra guerra. Atribui-se ao pracinha Francisco de Paula o primeiro tiro da artilharia da Força Expedicionária Brasileira, com a inscrição no projétil: “A Cobra Está Fumando…” – o que é contestado por boa parte dos historiadores, alegando que a foto divulgada foi apenas peça promocional da campanha brasileira. O termo se refere a algo difícil de acontecer, e quando acontece traz resultados catastróficos para os atores envolvidos. Mas o fato é que nesta quinta-feira, 29, a cobra fumou aqui em Roraima.
Pagamentos dos salários dos servidores estaduais sem previsão de data. Sindicatos discutem alternativas viáveis.
O Governo do Estado de Roraima está à deriva. A governadora, há muito, perdeu o domínio do leme. Não aparece mais, não dá entrevistas, não divulga uma nota sequer à população e, em especial, aos servidores públicos tanto da administração direta quanto da indireta, no tocante ao atraso e ausência de previsibilidade de pagamento dos salários.
Em seu perfil pessoal no Facebook, o presidente do Sindicatos dos Policiais Civis de Roraima (SINDPOL), Leandro Almeira, divulgou nota informando que hoje, dia 30, às 10h, está ocorrendo uma reunião com os presidentes dos sindicatos de servidores públicos na sede do SINDPOL para tratar do atraso dos pagamentos dos servidores.
Juiz determina que as receitas do dia 20 devem ser direcionadas para pagamento dos servidores
O juiz da Vara da Fazenda Pública, Aluizio Ferreira Vieira, em ofício ao gerente de serviços da agência do Setor Público do Banco do Brasil, conforme decisão monocrática de sua lavratura, determina que os repasses do FPE – Fundo de Participação dos Estados dos dias 30 e 10 de cada mês devem ser direcionados, prioritariamente, aos valores relativos aos bloqueios judiciais e eventuais dívidas do Estado com o Sistema Financeiro Nacional, e que as receitas do dia 20 são prioritariamente direcionadas para o pagamentos dos servidores públicos. Veja o ofício na íntegra:
Francisco Figueira, presidente do SINTRAIMA, é pré-candidato a deputado estadual
Nascido em Boa Vista/RR, tem 40 anos de idade. Filho de Francisco das Chagas da Silva Figueira (Chicão) e Maria Francisca Pereira Figueira (Suzana). Pai de duas filhas, servidor público desde 1999 e concursado desde 2004, é graduado em Processos Gerenciais e está concluindo o curso de Ciências Contábeis. Em 2010 começou a militância sindical, e em junho de 2014 assumiu a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo do Estado de Roraima – SINTRAIMA, após uma disputa acirrada com a antiga presidência. Francisco Figueira (Francisco do SINTRAIMA) é pré-candidato a deputado estadual pelo PSB – Partido Socialista Brasileiro.