Costumo pensar que não há uma orientação sexual, ou opção sexual. O que há é a natureza sexual de cada um. Essa natureza deve ser de livre manifestação. Não conheço nenhum homossexual que tenha optado por ser homossexual. Lembro até de uma conversa com uma amiga psicóloga, em que falávamos de Tchaikovsky, da sua música, e então lembrei que ele era homossexual, mas seus irmãos o obrigaram a se casar com uma mulher. Ele ficou tão deprimido que se jogou no mar, numa morte prematura aos 53 anos [1], quando teria ainda muitos anos de magistral produção musical pela frente. “Perdeu a humanidade” – disse eu. “O casamento não era motivo pra suicídio” – completei.
A minha amiga olhou-me com aqueles olhos negros penetrantes – aliás, toda ela é negra e linda! – e me disse: “Te imagina então ser obrigado a casar com um homem e ter que dormir e acordar todo dia com aquela vara do lado”. Refleti por alguns segundos e fui obrigado a concordar: “É… é motivo pra suicídio!”.
Penso eu que o pitoresco diálogo relatado acima explicita a naturalidade da sexualidade humana: tanto a atração sexual predominantemente por pessoas do mesmo sexo, quanto a predominância da preferência por pessoas do sexo oposto – os homo e os heterossexuais. E entre esses dois polos uma infinidade!
O mesmo raciocínio trago para a polarização entre o comunismo pleno e o capitalismo pleno. À exceção dos indígenas isolados do contato com os não-índios, não há experiência conhecida de comunismo pleno, assim como não há experiência conhecida de capitalismo pleno – algo parecido nas primeiras década da primeira Revolução Industrial, talvez -, pois o Estado, seja lá a forma que assumiu ao longo da História, sempre esteve presente na economia, de um jeito ou de outro.
E não me venham com chorumelas, dizendo que tive uma recaída pela “esquerda”. Liberdade de expressão, seja sexual, político-ideológica ou mesmo a negação de qualquer desses rótulos, é coisa de liberalismo econômico, da “direita”, de povo capitalista, como já escrevi aqui. Quando foi a última parada gay em Moscou? Ou a primeira? O governo cubano financia cirurgia de mudança de sexo? Quantas crianças foram adotadas por pais homossexuais na Coreia do Norte? Afinal, quando um ator-atriz transsexual vai atuar numa telenovela da TV chinesa?
Outra defesa que faço é da liberdade de fetiches, modos de relacionamentos entre os casais-parceiros – a livre imaginação para práticas sexuais na vida conjugal. Um casal pode ser totalmente conservador e ter relações somente no período fértil, pra engravidar, de luz apagada e através de um buraquinho no lençol. Ou pode convidar pra dormir junto outro casal, uma ou mais mulheres, ou ainda um ou mais homens. É promiscuidade isso? A humanidade é, classicamente, promíscua. A propósito, outro dia vi o vídeo de um primo próximo, um macaco prego, comendo (fodendo) uma galinha! É pra pasmar mesmo!! E ele ainda mantinha a bichinha presa pelo pescoço, pra satisfazer sua lascívia quando bem entendesse. Isso aí eu não concordo! Pois já é caso de violência – mas o prego é inimputável, e a galinha… é uma galinha!
Enfim, defendo a natureza sexual de qualquer um, livre de discriminações ou chacotas, no limite em que se dê o que é seu e se coma o que lhe oferecem. Há o aspecto religioso nisso. Ia já encerrar este texto. Mas inserindo religião nesta matriz, tem mais pano pra manga.
“Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo. Eis aí toda a lei e os profetas.” Estas são as palavras do Cristo. As suas preferências magoam alguém, ferem a moral e o corpo físico de outra pessoa? É claro que o pedófilo não se encontra nessa elenco de respeito e direito de expressão. O estuprador não consensual também não! – O consensual sim , pois há mulheres que têm fetiche por estupro.
Aliás, ferir, no sentido literal, dependendo do caso, também não vejo problema. Tem muito maluco por aí que só goza levando umas porradas. Tive um casal de vizinhos assim. Morava em uma vila, uma série de apartamentos com paredes conjugadas. A mulher gritava, o cara gritava mais alto, a gente ouvia tapa, os gritos dela com tom de esganamento… por vezes pensei em chamar a polícia. Até quebravam móveis. Aí, pouco tempo depois estavam do lado de fora sorrindo, convidando a vizinhança pra churrasco… Não entendia aquilo. Um dia, conversando com outra vizinha, comentei o assunto. Ela então me disse que, aquela que apanhava, só tinha prazer daquele jeito. Tinha-lhe confidenciado que na maioria das vezes faziam sexo “normalmente”, mas só ele gozava. Quando ELA tinha necessidade de ter prazer, já tinham um código: quando ele chegava em casa, rebolava algo no marido, xingava, partia pra cima, apanhava… e gozava no final.
[1] Esta versão da morte do compositor é mais fruto da imaginação deste autor, em decorrência de suas lembranças da adolescência. Foi narrada por uma amiga, mais velha, de ascendência alemã e grande admiradora da música erudita: Márcia Brasília. Foi narrada, ou ao menos foi a imagem que a mente jovem e fértil deste autor construiu.