Murmúrio pálido de um corpo
que sofre as desgraças
da dor de não ter ninguém
Oh! solidão demoníaca,
que saudades me vêm
dos tempo de criança,
quando sozinho brincava
sob os olhos da avó querida
Ou quando cantava
às paredes, no banho de cuia
e minha mãe ouvia aquele cântico
Saudade atroz!
Do murmúrio forte
do vento que soprava no teto
da casa de taipa,
na minha terra querida,
carregando o coraçãozinho
de forte esperança na criança
que em verdade
nunca soube da vivência
de ter grandes amigos
Dor máxima,
de intensidade maior
que os ventos noturnos,
daqueles que quase arrancam as palmas
dos buritizeiros nos campos
verdes do lavrado macuxi
Dor máxima,
mais forte que o sol
que queimava meu rosto
quanto tentava, contra o vento,
levar, a pedaladas,
a bicicleta adiante
Dor… Dor…
dor da saudade
da solidão das estrelas,
quando lembro meu céu
cheio de cores,
da minha lua de esplendor maior
Dor mais forte ainda quando,
na madrugada calorenta e abafada
(tão diferentes das minhas madrugadas
amenas de vento forte da savana)
acordo sedento e não há
nenhuma gota d’água
para aliviar a sede dos tempos d’outrora
Não vejo mamãe…
não vejo maninha…
não vejo maninho…
Manaus, 07/08/87