Nossa linda juventude termina em velhice. Ou não!

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Nossa linda juventude
Página de um livro bom
Canta que te quero
Cais e calor
Claro como o sol raiou

(Flavio Venturini/Marcio Borges)

E então um dia nos olhamos no espelho e não reconhecemos mais a pessoa da juventude. Os cabelos caíram, as olheiras se aprofundaram, a barriga nunca esteve tão grande e a massa muscular já faz falta. E o pior: a libido não é mais a mesma – embora não necessariamente tenha acabado, só não tem mais aquela de “pau pra toda obra”. É quando percebemos que os anos se passaram e nos perguntamos onde e quando vivemos tudo isso.

O corpo envelhece mas o espírito permanece jovem” – enunciado eufemístico pra dizer que a velhice é uma merda, mas ainda a melhor alternativa: a gente envelhece ou morre. Claro que no final todos morreremos. E se demorarmos muito, passamos a ansiar pela morte. Lembro de uma das últimas entrevistas do arquiteto Oscar Niemeyer, na qual, do alto de seus cento e poucos anos, em sã consciência e atividade profissional, dizia se sentir cansado. Cansado da vida. O corpo queria descansar. E olha que ele era comunista-materialista: depois da morte, nada de vida eterna, de prazeres celestiais. É morte mesmo: a-ca-bou!

A propósito, às vezes me pego em dúvidas quanto ao que se chama de “vida após a morte”. Não deveria, já que me intitulo espírita. Mas sempre fui um herege em relação à Doutrina. De uma coisa já me convenci: não há vida após a morte. Não no sentido biológico, pois a morte é a falência biológica do corpo. A dúvida é se a unicidade consciente permanece após o corpo falecer.  Mas calma, Assis, pois esta reflexão não tem como objeto o post mortem – é o caminho que leva à morte que te incomoda agora: a velhice.

A melhor idade” – quem teve esta infeliz ideia de classificação para a velhice? A melhor idade é aquela em que nos sentimos todo-poderosos, quando olhamos à frente e vemos um horizonte ilimitado de perspectivas infinitas, do tamanho da nossa imaginação. A melhor idade é aquela em que acordamos de manhã excitados, batemos uma pra aliviar, passamos o dia jogando pelada no campinho de várzea, à noite balada, fim de noite sexo casual. Na manhã seguinte praia e sol, jacaré nas ondas. E ao por do sol, quando nos olhamos no espelho, nos vemos bronzeados e sexy. Esta é a melhor idade!

O problema da velhice é o tempo: quanto mais velho, mais velho! Não dá pra a gente dizer que está cansado de ser velho e voltar a ser jovem. Envelhecer é um caminho sem volta, e esse fenecer nos leva a falecer. Às vezes tem uma ajudinha do “alemão” – Alzheimer -, Parkinson, câncer de próstata… são os “empurrões” decorrentes da velhice em direção ao repouso final do complexo biofísico ao qual chamamos corpo humano. Após crescermos e reproduzirmos, envelhecemos e morremos. Simples assim.

As mãos não mentem, não escondem a idade. Foto: Eliene Martins.

Se o leitor acha que estou em crise existencial porque a velhice vem chegando, está completamente certo! E o pior, como já escrevi antes: estou morrendo sem ter feito nada do que me propus na juventude, além da paternidade.

Já pensaram que estamos mesmo morrendo? Morrendo aos poucos, na medida em que a vitalidade do corpo se esvai com a velhice progressiva. A beleza e a virilidade de alguns rostos e corpos privilegiados pela genética se degradando a cada amanhecer. A capacidade de raciocínio, de memória, de locomoção… tudo isso tornando-se passado em nossas vidas com horizonte cada dia mais limitado, pois, com o decorrer do tempo, cada vez que pensamos no futuro, menos futuro temos. Até não termos mais nada! É a velhice o mais sublime e fatal caminho para a morte. Pior do que a velhice só a morte súbita em plena juventude.

 

 

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