Quando a lua estiver na Sétima Casa
E Júpiter se alinhar com Marte
Então a paz guiará os planetas
E o amor guiará as estrelas
Este é o amanhecer da era de Aquário
Idade de Aquário
Recorrentemente me refiro ao século XX. Talvez pelo fato de nele ter nascido. Nele nasceu também o meu primeiro filho. Assim, tenho dois filhos em dois séculos diferentes – nada mal!
Século fascinante, por bons e maus motivos. Tivemos a gripe espanhola e duas guerras mundiais – a Segunda trouxe a reboque a era nuclear. Também não podemos – nunca! – esquecer do holocausto. O comunismo, que derivou para o Leste europeu, Ásia e Sul da América, resultando na Guerra Fria, que de fria não teve nada.
Foi o século das luzes e das trevas. Da belle époque, da geração perdida de Gertrude Stein, Hemingway, James Joyce, Scott Fitzgerald… e da grande depressão de 29. Foi o século de Gandhi, Einstein, Pierre e Mary Curie. Mas também de Churchill, Guilherme II, Hitler, Mao Tse-tung e Stálin. No ocaso, foi o século da utopia, com o movimento hippie em busca da Era de Aquário.
Com efeito, nas últimas décadas do século XX, a utopia era a chegada do Ano 2.000! Tudo seria diferente: a humanidade viveria em paz num mundo cansado de guerra. Fim das desigualdades. Não mais fome, violência urbana. O fantástico desenvolvimento tecnológico garantiria o fim do trabalho escravo, níveis de produtividade da produção primária e industrial que garantiriam alimentos para todos. Só esqueceram de combinar “com os russos”.
Há ainda aqueles que relevam: no Século atual não tivemos nenhuma grande guerra que dizimasse milhões de seres humanos. O mundo parece se entender diplomaticamente; ou pelas redes sociais. A democracia é o regime que impera no mundo. As nações têm se esforçado para reduzir as desigualdades sociais, os danos ao meio ambiente, o superaquecimento e o armamentismo global. Este é o quadro utópico.
A distopia surge quando imaginarmos que ainda não chegamos ao primeiro quarto do século XXI. Além de matar direta e implacavelmente, a pandemia da Covid-19 tirou de foco os conflitos que já se arrastam há décadas, ceifando a vida de milhões de pessoas, como os provocados pelo Estado Islâmico, a guerra da Síria, as guerras tribais da África, que continuam sufocando os gritos das suas vítimas – homens, mulheres, velhos e crianças. A sangrenta luta dos curdos por seu próprio país. Sem esquecer a nossa vizinha Venezuela, que continua exportando diariamente milhares de desesperados, refugiados da fome, doenças, perseguição e extermínio, seja das autoridades governamentais de seu país, seja de grupos paramilitares. E, infelizmente, junto com esses cidadãos venezuelanos de bem, vêm também bandidos jurados de morte por rivais, e que se juntam com os grupos que já temos aqui. No Brasil estamos vivendo um estado de guerrilha, e poucos percebem ou lembram. O crime organizado está mais organizado, com a pandemia. As milícias mais ousadas.
No século XX o socialismo foi responsável direto pelo extermínio de centenas de milhões de seres humanos: na própria União Soviética, Leste Europeu, na China, na Coreia, Vietnã, Camboja. A ineficiência, ineficácia, verdadeiro desastre da experiência socialista internacional derrubou as estruturas pós 1917. Quais os motivos dessa falência? Não dá pra abordamos agora.
Mas o fato é que os grupos ideológicos e políticos que se formaram ao longo do século XX, e que, como consequência dos conflitos com outros grupos, perderam força, estão se reorganizando, em boa parte pela incompetência dos seus algozes. E toda aquela ideologia de esquerda está guardada no subconsciente dos jovens cidadãos do Ano 2.000, conforme as anotações nos cadernos de Gramsci, cuja revolução cultural se revela nos conflitos sociais do mundo ocidental, com os ativismos étnicos, climáticos, armamentistas, tanto de um polo quanto do outro, e a polarização tende à ruptura do “cabo de guerra”.
Com o ativismo de esquerda, grupos de extrema-direita estão recebendo novo fôlego. Extremismo leva a extremismo; vimos isso no nazismo alemão e fascismo italiano, em contrapartida à Revolução Russa. Antevejo a consolidação desse conflito de porte internacional, que será detonado a partir de países desenvolvidos – ou no último estágio de emergência à plena intensificação de capital dos seus meios de produção, como o Brasil, Índia e China.
Penso que a pandemia da Covid-19 já nos disse a que veio. Mas, causada por um vírus bem pouco conhecido, também pouca certeza temos das previsões futuras da doença. Sabemos que não é uma simples gripezinha, que está em plena ascensão, e contando! Dou atenção, sem alarmismo, às prospecções de novas epidemias, em tempo breve, quem sabe algumas já começando a contagiar suas primeiras vítimas. Isso não é teoria da conspiração. Já temos epidemias que ainda não foram completamente controladas, como o HIV e ebola, que continuam matando. A novidade do Sars-Cov-2 é a sua transmissibilidade, o que eleva o grau de letalidade, em termos absolutos. E o ativismo, seja de direita, seja de esquerda, só procura uma motivação qualquer, debilidade qualquer, para se manifestar e justificar ações extremas.
Então, caro leitor, tenhamos o passado em nossas mentes, para nos guiar os rumos futuros, pois, ao contrário da utopia da Era de Aquário, creio que estamos vivendo a distopia do século XXI.