O fator Bolsonaro e a ameaça da esquerda

Precisamos manter a serenidade e o senso crítico.

Se perdermos o senso crítico, então não teremos mais nada!

No sábado, 24 de julho/2021, manifestações anti-Bolsonaro se espalharam pelo Brasil, lideradas por “movimentos sociais” e entidades representativas de classe, em “defesa da democracia e do combate à pandemia da Covid-19”, com palavras de ordem pela queda do presidente democraticamente eleito. Teve quebra-quebra, aglomerações com pouquíssimo, ou nenhum, distanciamento, e o surgimento de um novo movimento: “Revolução Periférica”, que ateou fogo à estátua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro se revelou absurdamente incompetente na condução da política de Saúde no país, conduta que se agrava quando lembramos que estamos em plena pandemia do Sars-Cov-2, com mais de 500 mil mortos e, embora a média móvel esteja em queda, ainda passamos dos mil mortos por dia. E não podemos nos balizar somente no número de óbitos, mas no número de casos registrados, e os casos graves, que resultam em sequelas em milhares dos contagiados, não poucas vezes levando à invalidez parcial, invalidez, e até à morte.

O discurso de pureza moral está caindo por terra. Bolsonaro sucumbiu ao Centrão, culminando com a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP) à chefia da Casa Civil, ministério da “cozinha” do Planalto. Lembramos que o Progressistas foi o partido com maior envolvimento na Lava-Jato. Sigla esta que ainda almeja os possíveis futuros ministérios do Planejamento e da Indústria e Comércio. Pra acomodar Onix Lorenzoni, atual titular da Casa Civil, será criado o Ministério do Emprego e Previdência. Lá vamos nós de novo: flashback da velha prática de criar ministérios para brindar – e locupletar – o fisiologismo de aliados. Além do apoio no Congresso, o Presidente pretende disputar a reeleição em 2022 pelo PP.

Além dos 550 mil óbitos pela Covid, e contando, a economia está em crise. O Banco Central está sendo obrigado a aumentar a taxa básica de juros pra inibir o impulso inflacionário, que nos últimos 12 meses registra 8,35%, para uma meta original de 3,75%. Em julho de 2020 a taxa Selic, juros básicos, era 2,25%; em julho de 2021: 4,25%. Isto significa que o financiamento dos investimentos autônomos ficou mais caro. Dado correlacionado é a taxa de desocupação da mão de obra, que registrou 14,7% em março de 2021 – taxa trimestral divulgada mês a mês –, ou seja, temos mais de 14 milhões e meio de desempregados em idade produtiva. A balança comercial depende das exportações puxadas pelas commodities, cujo principal comprador é a China, o que nos faz reféns do governo de Pequim – alvo internacional número 1 das críticas de Bolsonaro e sua trupe – para manter nossas reservas cambiais, que vêm apresentando média decrescente[1]. E qual é o principal item de debate no Palácio do Planalto? O voto impresso – discussão esta totalmente extemporânea.

O fato é que estamos em plena e aquecida disputa eleitoral, com pesada campanha de ambos os lados: governo e oposição, esta capitaneada por um abutre que avidamente plana em círculos, vidrado na carniça.

Não nos deixemos iludir! As cacas de Jair Bolsonaro não justificam, e não nos podem fazer esquecer, o verdadeiro saque que a esquerda tupiniquim promoveu neste país, assim como, fechar os olhos para as manobras do Supremo Tribunal Federal para reabilitar politicamente o ex-presidente.

Lula não foi inocentado! – seria missão impossível. Foram nulidades processuais, sem sopesar o mérito. Anularam provas de processos já referendados por instâncias superiores, com fulcro em “provas” duvidosas e reconhecidamente ilegais, “reveladas” pelos “hackers” de Araraquara, conforme apurado pela operação Spoofing. Provas e delações premiadas que não poderão ser usadas pelos juízes sorteados para reprocessar as acusações contra Luis Inácio e sua gangue.

Neste contexto, a esquerda tem uma vantagem em relação à falange bolsonarista: tem a sua ala culta, que pensa e repensa estratégias de ação. Estudioso, bem formado e informado, esse grupo elabora discursos e semeia pensamentos, que são reproduzidos pela boca de Lula, que não escreve nada, e nem lê, mas sabe muito bem ouvir e decorar o que lhe ditam os intelectuais, introjetando conceitos que parecem ser próprios, embora não acredite, ele próprio, em nada do que fala nesse nível de discurso. É visível a espontaneidade quando Lula fala o que realmente acredita: ‘Supremo acovardado”, “mulheres do g. duro”, Pelotas exportadora de viados… e por aí a fora.

Bolsonaro, ao contrário de Lula, não ouve nada e nem ninguém. Apesar de portar dois cursos superiores –oficial do Exército Brasileiro e professor de Educação Física[2] -, muito provavelmente também não tem o hábito da leitura, da reflexão, do pensar. E não é só ler, é o quê ler. Lula fala o que não pensa – pois pensam por ele -, e Bolsonaro não pensa no que fala. Nesta equivalência Bolsonaro perde, justamente pela primeira parte deste parágrafo: o Jair não ouve nada e nem ninguém – só os filhos.

[1] Segundo dados do Banco Central. Uma análise mais detalhada do quadro econômico será elaborada posteriormente.

[2] Pergunto aos meus botões: como Bolsonaro foi diplomado no curso de formação de oficial das Forças Armadas, assim como, Dilma Rousseff em Economia, ambos os cursos tão completos e exigentes. Bolsonaro, pelo menos, já disse que sabe integrar e derivar. Dilma, nem sei se sabe o que é isso – embora cálculo diferencial e integral componha a grade do curso.

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