Historicamente os candidatos de direita não empolgam o eleitor brasileiro. E quando nos referimos à direita, queremos expressar a proposta do Estado mínimo, que incentiva e facilita a iniciativa do indivíduo, com menos burocracia na constituição legal de empresas, ampliação do campo de atuação da iniciativa privada, sem a concorrência desleal do próprio Estado, seja diretamente, como proprietário dos meios de produção, seja indiretamente, na corrupção das despesas governamentais e gestão das empresas estatais e paraestatais, carga tributária não confiscatória e livre relação capital-trabalho. Não ao assistencialismo. Foco de atuação voltado para a segurança externa e interna, e infraestrutura básica. Saúde e Educação, a rigor, também ficam a cargo da iniciativa privada. Enfim, um Estado em que as diretrizes da economia e, consequentemente, das relações sociais, sejam definidas pelo mercado, e não por planos econômicos. Prova disso que os candidatos capitalistas têm sempre desempenho pífio: Antônio Ermírio de Moraes, Silvio Santos, Guilherme Afif Domingues e, pelo menos por enquanto, Flávio Rocha (PRB). Alguns sequer conseguem formalizar a candidatura, pois, em regra, o “sistema” escolhe e elege burocratas representantes de velhas oligarquias políticas.
Por outro lado, o nosso eleitor também não se empolga com discursos da extrema-esquerda: total estatização dos meios de produção, incluindo a propriedade fundiária. Falência do capitalismo e da economia de mercado, que devem ser substituídos pela gestão estatal e economia centralmente planejada. Este modelo requer, na prática, um Estado forte, totalitário, que não suporta demandas externas ao núcleo de poder e, mesmo dentro deste núcleo – politiburo – não há espaço para controvérsias em relação ao que é estabelecido pelo líder supremo.
No final o brasileiro perpetua a preferência pelo estamento burocrático, votando no político de carreira, detentor de vários mandatos, em seus filhos ou em algum apadrinhado sob sua indicação, que prosseguirá gerindo o bem público como propriedade daquele grupo político.
O fato é que a grande maioria de nós teme tanto a esquerda quanto a direita, posto que tanto um extremo quanto o ouro nos cobra esforços, posicionamentos, renúncias e sacrifícios, o que é demais para a nossa formação luso-colonial. Melhor mesmo é ficarmos com o Estado paternalista, com o discurso do tudo pelo social e dos direitos e garantias sociais. Não importa que o Estado sugue um terço do que se ganha, do que se produz, pois o mais importante é garantir o uniforme escolar dos filhos, o bolsa família, o vale alimentação, o kit noivado, kit casamento e até o kit funeral. Neste contexto o discurso da vitimização deve ser substituído pela máxima da cumplicidade, pois quem vota em corrupto, sabidamente corrupto, não pode ser considerado vítima: no mínimo, cúmplice. O mais certo seria coautor.
Ocorre que a esquerda brasileira, a partir da década de 1980, tem conseguido driblar o entendimento do eleitorado, mostrando que na verdade acredita em Deus, não vai estatizar os meios de produção, não instituirá uma ditadura do proletariado, e não é dada a comer criancinhas. Fora não comer criancinhas, o resto é calamitoso, pois desnuda o que se poderia caracterizar como ideal revolucionário, ideologia da igualdade e fraternidade, deixando exposto o seu fisiológico projeto de poder. Ideologia agora só a de gênero. De resto, os 13 anos de administração petista mostraram bem a que veio: chafurdou-se na lama com os mesmos porcos que sempre assaltaram o patrimônio público, e agora vem com o discurso de “golpe parlamentar” contra os suínos com quem voluntariamente dividiu a mesa e o clientelismo dos pseudo empresários. Utilizou-se dos mesmos institutos de corruptos e corruptores. Pior ainda: institucionalizou a corrupção, trazendo sua administração para o seio do poder, sob a batuta do próprio mandatário.
E o que poderíamos chamar de direita, no sentido socioeconômico, não passa de cliente do estamento burocrático, desde sempre: desde que Cabral, “por acaso”, avistou o Monte Pascoal. Não há uma burguesia brasileira, como não se pode dizer que em Portugal se formou uma burguesia nos moldes da surgida dos burgos europeus. Mas o povo em geral é alheio a esta realidade, acostumado a receber as migalhas do poder em troca de um voto que vai lhe garantir os kites sobrevivência, se deixando alienar de modo tal que perde toda a dignidade que jamais teve.
Por isso hoje uns rezam para que Lula saia da prisão, se candidate e seja novamente eleito Presidente da República. Outros clamam pela volta dos militares. Em todos os casos, há sempre a intenção de que um santo milagreiro salve a Pátria, nos eximindo de esforços, riscos, renúncias e, sobretudo, trabalho, muito trabalho.
Na verdade, ser a favor do Estado mínimo não quer dizer ser um capitalista. O nosso Estado mínimo quer dizer menos impostos tanto para os cidadãos quanto para as empresas. Quanto mais recursos nas mãos das pessoas, seja física ou jurídica, mais capital circulante no mercado interno, aquecendo a economia e gerando mais empregos, mais investimentos, inclusive, aumentando a arrecadação do estado. Já a educação, considero de suma importância o investimento estatal, pois é algo estratégico tanto para o crescimento do Estado ou nação, quanto para a libertação do povo deste quadro vicioso que os corruptos o colocaram.
Sem mais delonga, considero que o povo tem, este ano, a única chance de virar as pagina de uma história pessimamente escrita.