Hoje o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi ouvido na Polícia Federal de Curitiba. Até pensei que ele ainda estivesse morando em Brasília, mas, ao que parece, já voltou a residir na capital paranaense. No ambiente polarizado em que vivemos atualmente, qualquer crítica que se faça ao presidente Jair Bolsonaro, ou ao menos comentários favoráveis a qualquer adversário/”inimigo” – que o presidente fabrica em série -, soa como crime de lesa-pátria, confundido-se o mandatário do Executivo com o próprio Estado Nacional, o que é um grave erro. O presidente da República é um servidor público, ao qual foi outorgado um mandato, através do voto popular, para o cumprimento das suas obrigações nos termos da Constituição Federal e legislação complementar e ordinária.
Votei em Bolsonaro e o tenho defendido aqui neste blog, em grupos de redes sociais e nas conversas com amigos. Defendi sua candidatura e o meu voto ostensivamente em todas as redes sociais, o que levou muita gente a me excluir dos seus perfis. Não me arrependo, em face das outras opções de voto, e torço, rezo, para que o presidente conclua satisfatoriamente o seu mandato. Mas, como deixei bem claro na campanha 2018, fora a família, apoio incondicional só pelo Flamengo – e ainda assim, quando joga mal, eu sou campeão de xingamento contra a seleção rubro-negra.
Conforme o título deste artigo, eu sempre fico a favor do Brasil. Este é um pensamento de Estado, e estadista é o que Bolsonaro está longe de ser, e nesta altura do campeonato não creio que ainda assuma tal postura. A visão e a conduta de estadista é incongruente com o totalitarismo, seja de direita ou de esquerda. E a conduta do presidente, desde o início do seu mantado, tende ao totalitarismo, que não chega a ser de direita. Está distante de ser de direita, tanto sob o aspecto político, quanto econômico. Ele é claramente populista intervencionista centralizador, pois não é possível que um presidente da República democraticamente eleito pelo voto popular apoie manifestações que clamam pela intervenção militar no Estado.
Sabem de quem eu lembro? Do Jânio, que entregou a Presidência por impulso de “forças ocultas”, provavelmente etílicas, e do Jango, que permitiu a formação de um ambiente pró-golpista de esquerda, ensejando o golpe de 64. Os elementos históricos convergem para esta afirmativa. Estávamos na era da revolução armada, de “todo o poder aos sovietes”, da luta de classe. Este era o objetivo, longe de ser democrático, confessadamente: a ditadura do proletariado; o que ensejou a detonação do Mourão Filho, satisfazendo um anseio das forças armadas retardado por 10 anos pelo Lott no golpe da legalidade.
Então, ao que me parece, o presidente Jair Bolsonaro tem envidado suas ações para um ponto de ruptura, um break-down com o Estado democrático, como o fez Jânio com a renúncia, e Jango com o pedido de Estado de Sítio ao Congresso, em ambos os casos, para governar com plenos poderes. Com a moderação de Castelo Branco, os militares assumem constitucionalmente, através da eleição indireta, o que hoje pode acontecer, caso haja qualquer impedimento a Bolsonaro, completados dois anos de mandato. A m. é que, em 64, o governo tampão, de transição, assim definido pelo próprio Castelo em sua posse, transformou-se numa ditadura de 20 anos. Este é o risco que corremos, embora não veja ambiente para tal, nem no contexto internacional, nem na conjuntura interna, inclusive na caserna, embora tudo seja possível! Uma eventual posse do Vice, general Mourão, com impedimento ou renúncia antes dos dois anos, pode reacender o gostinho do poder nos verde-oliva.
Nessa caminhada, Bolsonaro tem agido de forma tipicamente totalitária – regime que sou contra, seja de direita ou de esquerda -, expurgando qualquer um que possa ameaçá-lo politicamente. O depoimento de Sérgio Moro é mais um capítulo da novela que começou na Operação Lava Jato, onde o então juiz conduziu os trabalhos de forma eficiente e eficaz, cumprindo o seu papel legalmente instituído, como assim o deveria fazer qualquer outro magistrado. Nada mais do que isso. Mas o Brasil é autêntico país latino-americano, embora não hispânico, e produzimos uma crendice que virou capa de livro, posteriormente personagem de série da Netflix. Esta era a intenção de Moro? Creio que não. Foi alçado ao protagonismo pela população a contragosto, pelo menos no primeiro momento, o que, ao contrário do queixume de Bolsonaro em seu pronunciamento, muito ajudou na campanha à Presidência.
Sim, Sérgio Moro angariou muito mais dividendos a Bolsonaro do que muita gente que vestiu a camisa e foi pras ruas pedir votos ao Capitão, na medida em que o candidato incorporou os méritos da Lava Jato ao seu discurso de moralidade e anti-corrupção, desde o início prometendo convidar o então juiz para compor o seu gabinete. Ora, isto incutiu no imaginário popular que o futuro presidente levaria a Operação Java Jato para o seu governo, com juiz e tudo, sobretudo ante a ostensiva promessa de que daria “carta branca” a Moro para compor a sua equipe, formada, evidentemente, pelo pessoal da Lava Jato. Foi assim que ficou claro as todos nós. Foi assim que foi dito, e assim que esperávamos. Não posso afirmar que houve a promessa da vaga no Supremo. Moro diz que não. Mas se houve ou se não houve, acho legítimo, eis que Moro abandonou a vida, a única vida que construíra, vez que assumira a magistratura com vinte e poucos anos. Completa loucura, ao meu ver!
Mas caiu no canto da sereia e se deu mal! Jair cumpriu a primeira parte do prometido: empossou Sérgio Moro como ministro e permitiu-lhe nomear a equipe próxima. E pronto! Aos poucos, mas ostensivamente, foi minando as funções e prerrogativas do ministro da Justiça. Vou me furtar a enumerar os pontos, mas sugiro o programa Gabinete da Crise, d’O Antagonista, para maiores detalhes, a culminar com a exoneração do Diretor Geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. O crime organizado agradeceu. Um amigo de Manaus e outro do Rio de Janeiro me disseram que os Brothers comemoraram a queda de Moro com chuvas de fogos de artifício.
Outra categoria de bandidos também comemorou, desta feita, aqueles que vestem terno, com camisas do colarinho branco, como Valdemar da Costa Neto e outros membros do Centrão, a quem o presidente recorre, agora, para firmar uma base parlamentar na Câmara Federal. Muito conveniente, por sinal: expurgar Moro e Valeixo, inseticidas, para acomodar os insetos. Bolsonaro assumiu com alta credibilidade, seu partido foi o que reuniu o segundo número de cadeiras, logo podendo assumir a maioria. Mas ele se fez de rogado, resolveu negligenciar a bancada, em nome da “nova política”, rachou e abandonou o partido.
Bolsonaro buscar sustentabilidade no Centrão, na “velha política” fisiológica, me soa como a paródia da virgem que recusou médios e bons partidos, em nome da virtude, honra e dos bons costumes, para, no final – e espero, sinceramente, que não seja o final -, ceder a vagabundo qualquer, à ralé.