Nascido em 1963 na cidade de Boa Vista e criado no Orinduque, município de Uiramutã, é administrador de empresa, tendo ocupado a direção de mineração da CODESAIMA (Companhia de Desenvolvimento de Roraima). Filho de nordestinos retirantes – pai maranhense e mãe potiguar – é o presidente regional do Partido Verde e mantém um blog com o seu nome. O nosso entrevistado de hoje em Eleições 2018 é Rudson Leite, pré candidato ao Senado, e senador da República a partir de 05 de junho próximo, substituindo temporariamente o senador Telmário Mota.
Você vai passar alguns meses ocupando uma cadeira no Senado, a partir de junho. Quais ações pretende praticar?
Eu tenho pouco tempo para passar lá, mas tenho metas. Por exemplo: não me conformo com o instituto da reeleição para a presidência dos poderes legislativos. Isso aconteceu com o Mecias de Jesus, que foi por oito anos presidente da Assembleia Legislativa de Roraima, e não produziu grandes coisas. Se você buscar na memória o que a Assembleia produziu, você vai ver que pouca coisa. Produziu sim, uma reforma milionária do prédio sede. Então, quando você se enclausura no poder, como presidente da Assembleia, onde o orçamento é muito alto, você vira um rei, vira um poder mais forte do que o Executivo. A gente tá vendo isso de novo com o Jalser, que foi eleito presidente e já fez a reeleição para os quatro anos.
O orçamento da Assembleia Legislativa, junto com o do Tribunal de Contas, é em torno de 302, 303 milhões de reais. Enquanto isso, o orçamento da Agricultura é em torno de 90 milhões. O orçamento da Defensoria Pública, que cuida de 90% dos processos da justiça de Roraima, tem um orçamento abaixo de 50 milhões de rais. A Secretaria do Índio, que cuida de todos os índios do Estado, tem um orçamento de menos de 4 milhões de reais. Então eu não me conformo com isso e pretendo discutir em nível nacional, e espero que as pessoas se predisponham a discutir esse assunto aqui também, pra acabar com esse instituto da reeleição nas assembleias legislativas e câmaras de vereador. A minha proposta é seguir a regra da Câmara dos Deputados, estabelecida no art. 57, § 4º da Constituição Federal: mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente. Neste caso, a proposta é de emenda constitucional neste dispositivo, aplicando-o aos poderes legislativos dos estados, municípios e Distrito Federal.
Qual a perspectiva de coligação do PV em âmbito nacional?
Não tem nada definido. Se o PV não tiver candidato próprio, acho que fica liberado pra cada estado apoiar quem quiser. Neste caso eu pretendo apoiar o senador Álvaro Dias (Podemos).
E quanto ao cenário local, como ficam as aglutinações?
Aqui estamos definidos da seguinte forma: o candidato a governador é o Telmário Mota (PTB). O candidato a vice já está praticamente definido, que é o Evandro Moreira. Os candidatos ao Senado serão eu e o Júlio Martins. A coligação pra deputado federal deverá ser PV, PTB, REDE, e estamos conversando com o PROS, o PODEMOS e o PPL. Pra deputado estadual o PV sai sozinho, não coliga com ninguém.
As pesquisas apontam Romero Jucá e Mecias de Jesus na cabeça. Qual a sua perspectiva quanto a se eleger, considerando os demais candidatos?
Na verdade só existe uma pesquisa que foi registrada. E essa pesquisa mostra o Mecias de Jesus com 13%, Romero Jucá com 13%, Ângela Portela com 11%, Chico Rodrigues com 8%, Isamar Ramalho com 7%, Luciano Castro com 6%, e eu apareço com 3%. O detalhe é que eu nunca me lancei candidato. A minha ressonância, pra aparecer como candidato, vai ser a partir da minha posse, a partir do que eu vou apresentar. Os primeiros colocados com apenas 13% significa que tem um campo aberto. Alguns concorrentes vão cometer erros, até lá. Por exemplo: o Mecias de Jesus anunciou que saiu da base do governo e provavelmente vai apoiar o Denarium. Como a população enxerga isso? O cara passou quase quatro anos fazendo parte da governabilidade do Estado, com forte influência na Saúde e na Segurança Pública. E como estão estes setores de Roraima? Esta é a pergunta que as pessoas têm que fazer: quer dizer que no final ele sai pra apoiar outra candidatura? Como é que a população vê isso? “Ah, ele fugiu da rejeição que a Suely tem”. Mas ele comeu o filé! E aí, na hora de roer o osso, como é que fica?
Quanto ao Romero Jucá, não precisa nem falar! Tá envolvido com todo escândalo que aparece: é Zelote, Lava Jato… é um monte! Em quase todas as operações da Polícia Federal o Jucá tá envolvido. Então não precisa ninguém fazer oposição a ele. Acho até um erro o Telmário ficar batendo nele, pois ninguém bate num cachorro que já tá agonizando.
Mas pelo histórico você não acha que a eleição de Romero Jucá já está garantida e vocês estão disputando apenas uma vaga?
Não, o Romero não está eleito. O senador Romero Jucá vai ter muita dificuldade pra se eleger. Muita dificuldade! Por quê? Porque em eleições passadas a informação chegava do jeito que ele queria que chegasse, já que é o dono dos canais de televisão, das rádios, jornal, etc. Um ou outro veículo de comunicação que não era dele, ele controlava. Então as informações não chegavam. Hoje tem as redes sociais. Tem WhatsApp, Facebook, Twitter, os blogs, canais de TV por assinatura. As pessoas têm acesso à informação. Então, hoje, o discurso de que ele “rouba, mas faz” não emplaca mais. Ele tem que fazer e não roubar. Todos têm que fazer! Se não quer ser político, vai pra outra profissão, mas esse negócio de roubar, roubar… Quem rouba é ladrão, e lugar de ladrão é na cadeia! Eu acho que ele vai ter dificuldade porque todo mundo sabe que ele tá envolvido em tudo quanto é escândalo. Se tiver uma confusão, tem dinheiro pra roubar ali, ele tá no meio! Tem uma propina ali… Ele tá dentro! E as pessoas sabem disso.
Uma vez eleito, qual a sua plataforma programática?
Pra quem é do legislativo, tanto faz ser senador, deputado ou vereador, a principal coisa que precisa entender é de orçamento, pois o orçamento é a lei mais importante que ele vota. E aí você também tem que entender de necessidades. Entendendo estes dois elementos, você coloca as necessidades da população dentro do orçamento, ou seja: o meu estado, hoje, é carente de quê? De energia, pois não temos uma energia confiável. Então é preciso trazer energia, mesmo! Sem blá-blá-blá!
A corrente da 174 [BR-174, que liga a fronteira com a Venezuela a Manaus] é simbólica, não tem essa importância toda, mas isso tem que ser resolvido. Por quê? Porque a gente fica preso a uma situação que viola o nosso direito de ir e vir. Como é que uma corrente tira esse nosso direito? E tem como solucionar isso? Tem! Eu vou propor que o trecho da reserva indígena [reserva indígena Waimiri-atroari] seja transformado em corredor ecológico. E quando você transforma em corredor ecológico, limita a velocidade. Aí pode trafegar na BR-174 de dia e de noite, só que com a velocidade controlada, e muita informação em placas distribuídas na estrada: “travessia de animais”, etc., pois o motivo da corrente existir é a velocidade. Então eu vou lutar pra tirar a corrente do Jundiá. Esta é uma meta minha, junto com a energia.
Outro tópico pelo qual vou lutar é com relação à mineração. Eu sou do Partido Verde, mas entendo que a economia mundial, em quase 90%, gira em torno da mineração, em toda sua variedade. Nada existe sem a mineração. E a mineração em Roraima tem que ser uma realidade, não pode ficar só no papel e no discurso. Então, uma das minhas muitas bandeiras é a legalização da mineração em Roraima.
Mas isso não vai contra os princípios do Partido Verde?
Não, não. O Partido Verde defende o desenvolvimento sustentável, que é você usar hoje sem comprometer o amanhã. O que não pode é a garimpagem ilegal, que depreda o meio ambiente, como está acontecendo. Mas a mineração legalizada, monitorada pelos órgãos de controle do meio ambiente, cumprindo as leis ambientais, é possível e precisa ser viabilizada. Parece ser contraditório, mas não é.
A outra coisa que eu vou fazer agora, quando assumir, é com relação aos prédios históricos. Nenhum prédio histórico do Estado é tombado. Nenhum prédio! Todos estão à espera de um tombamento. Os únicos tombamentos que têm aqui em Roraima foram feitos pelo governo federal, que é o Forte de São Joaquim e alguns sítios arqueológicos. Mas quanto ao Estado e municípios não tem nada, e ninguém põe dinheiro pra isso, nenhum parlamentar! E eu pretendo fazer isso, porque eu sou roraimense, entendeu? Pra quem é de fora, os nossos prédios históricos não têm valor algum, mas pra quem é daqui, que faz parte dessa história, tem muito valor, e precisam ser restaurados e tombados como patrimônio histórico e cultural.
Outra bandeira minha é a salvação da CODESAIMA. Por que salvar a CODESAIMA? A CODESAIMA até hoje tem sido vista como um lugar pra botar um monte de gente, um cabide emprego. Mas a CODESAIMA é muito importante pro Estado, pra ser um simples cabide de emprego. Quando eu fui diretor de mineração tentei organizar o setor de argila em Boa Vista. Hoje o único fornecedor de argila aqui é o Walter Voguel, do outro lado do Rio Branco. É um monopólio, não porque ele queira, mas é o único local onde tem argila. Então eu queria levar os oleiros pro Distrito Industrial, em regime de cooperativa, e a CODESAIMA pesquisar, extrair e vender a argila pra eles a preço mais acessível. Por quê? Porque se os oleiros vendem tijolo e telha mais barato, cria-se demanda pra outros materiais de construção, dinamiza o setor da construção civil, gerando emprego e renda. Mas infelizmente não consegui. O que eu queria montar lá era uma consultoria, com engenheiro, geólogo… Técnicos em mineração. A CODESAIMA é única empresa que tem licença pra mineração aqui no Estado. Ela tinha 93 áreas.
Mas a companhia tem expertise na área de mineração?
Não, mas tem as licenças. A única que tem concessão pra exploração mineral em Roraima. Mas já perdeu mais de 60 áreas por falta de atenção com a empresa, e se continuar afundando, do jeito que está, vai acabar perdendo o resto das licenças que tem, e aí não é a CODESAIMA que perde, é o Estado de Roraima. As licenças são intrnasferíveis, mas pode haver parceria com mineradoras como a Vale, por exemplo, que pode explorar e pagar 25% do que extrair pra CODESAIMA – que é pro Estado. Pra se ter uma ideia, o orçamento do nosso Estado é de pouco mais de 3 bilhões de reais. Uma única mineradora de Minas Gerais, que é a CBA [Companhia Brasileira de Alumínio] que explora mina da CODEMIG [Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais], repassa cerca de 800 milhões de reais por ano. E nós temos mais de 20 áreas ainda. Estamos falando de algo em torno de 20 bilhões de reais. Os políticos que forem eleitos precisam despertar a atenção para a CODESAIMA, porque, além da mineração, pode ser responsável pela geração de energia. A JATAPU era da CODESAIMA, que foi repassada pra CER, que agora foi passada pra União. A CODESAIMA é muito importante, por isso eu pretendo salvar a companhia.
O turismo das joias também gera emprego e renda, pois se agregando valor à produção mineral, se atrai compradores de todos os níveis, desde consumidor final a grandes comerciantes. Hoje o produto mineral de Roraima sai todo clandestinamente, escondido em cueca, em bagagens, com exploração danosa ao meio ambiente. Por quê? Porque falta regulamentação para a exploração legal e sustentável. O projeto que tramita no Congresso neste sentido, o de número 1.610/96 [que dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas], de autoria do Romero Jucá, precisa de alterações, porque do jeito que está é muito perigoso pra Roraima, por prever a criação de uma agência de mineração. Então o governo federal vai dizer: – Ei, CODESAIMA, exerce teu direito nas tuas áreas. – Tá bom, o que eu preciso? – FGTS, INSS e as certidões. E a CODESAIMA não tem, porque deve mais ou menos 100 milhões de reais. Só de energia deve mais de 40 milhões. Então não vai poder exercer o direito de explorar suas áreas de mineração, que na verdade é uma expectativa de direito, mas tá lá, é da companhia, pois esse direito foi concedido antes de 1988. As concessões de 88 pra cá só através de licitação. Mas se a CODESAIMA não puder exercer esse direito, as áreas voltam pra a União. E quem tem conhecimento sobre as áreas de mineração de Roraima? Mais uma vez: o nosso grande senador Romero Jucá. E ele vai ficar com as áreas pra ele. Esta é a minha maior preocupação com a CODESAIMA e, consequentemente, com o Estado de Roraima. Por isso a CODESAIMA deve ser salva. E eu vou salvar a CODESAIMA!
Como você vê a questão indígena em Roraima?
Isto é matéria preclusa. Tá demarcado e acabou-se.
Mas quanto às pretensões de novas áreas?
O que tem de ser feito é a reavaliação das novas áreas pretendidas. Quem quer? São os índios mesmo? Tem alguém por trás? Nós temos que ver o índio e as demarcações não como um entrave, mas como oportunidade de negócio. Por que não plantar arroz na área indígena? Por que não plantar soja na área indígena? Inclusive eu mesmo já estou encaminhando alguns projetos neste sentindo, conversando com os índios, pois o índio tem que permitir! Se os índios permitirem, a FUNAI só tem que endossar. Já tem parceria de empresários com índios no Mato Grosso. O índio não pode ser visto com entrave, mas como parceiro. E eles querem ser parceiros! O que não querem é ser explorados.
A violência hoje assola todo o Brasil. Considerando a importância de um senador da República, que tem peso igual aos pares, como você se posiciona no debate que envolve o estatuto do desarmamento e a redução da maioridade penal?
O problema da criminalidade começa lá atrás, não é aqui, que já é resultado. Começa na família. A gente condena aqui na frente, mas não vê como foi a família daquele indivíduo: estava incluída socialmente? Teve emprego, teve educação? Então a raiz do problema é lá atrás. Você reduz a maioridade penal pra 16 anos e vê que não resolveu. Aí reduz pra 14, não resolveu. Reduz pra 12… pra 10… Se não resolver o problema lá atrás, não adianta essa questão de redução da maioridade penal, não vai resolver nunca. Porque a causa não é aqui, é lá atrás. A redução da maioridade penal deve ser bem discutida pela sociedade. Eu acho que deve ter penalidade, mas a redução não é a solução.
Quanto à questão do armamento, também não tenho segurança se isso é o melhor. O certo seria serem armados as polícias e as forças armadas, e acabou-se! Ninguém mais deveria estar armado: nem bandido, nem mais ninguém. O problema é que as fronteiras não têm a devida guarda, que é obrigação do poder público. O problema da segurança pública é obrigação do Estado, não do cidadão. Nem todo mundo é preparado pra usar arma. Se você estivesse armado aqui e aparecesse um bandido com arma, o que você faria?
Eu tentaria atirar primeiro do que ele, sem errar!
Que nada! Talvez nada. Não teria reação. Quem está preparado pra isto? Eu não tenho segurança pra dizer que armar todo mundo é o ideal. Este é o discurso do mais fácil.
Parabéns Senador, espero que cumpra o que está dizendo, estamos de olho, sabe que tem meu voto, sei e te conheço, por isso sei que mesmo com pouco tempo, deixará seu nome registrado pelas ações que proporá, estarei torcendo para que seus pares concordem contigo, boa sorte e sucesso
Vilton Flor