Review: A Boa Vista Que Não Queremos

No dia 08 de setembro de 2007 publiquei este artigo no meu antigo blog. São 10 anos e meio e, infelizmente, a violência urbana continua tema corrente, só se agravando. Além das migrações nordestinas, agora temos a imigração: os discretos haitianos e os não tão discretos venezuelanos.

Olhando para esses últimos 10 anos, acho que Boa Vista degradou – no que pese dois shoppings, quando não tínhamos um sequer; o aumento da malha asfáltica, a internet de fibra ótica… Mas na soma e subtração, a qualidade de vida caiu. E o pior: a tendência permanece de queda. Deixo o texto de 10 anos atrás para que o leitor, se tiver paciência de ir até o fim, chegue às suas próprias conclusões.

Gostaria de receber muitos comentários me desmentindo, dizendo que a qualidade de vida do boavistense aumentou, hoje a cidade é mais segura, temos mais leitos hospitalares disponíveis, superávit de carteiras escolares, e a oferta de serviços médico-odontológicos atende plenamente às necessidades do munícipe. Gostaria também que o leitor pudesse demonstrar a atuação constante e progressiva do poder público, em todas as suas esferas, respondendo satisfatoriamente às demandas sociais com planejamento de longo prazo. Fica o artigo:

A Boa Vista Que Não Queremos

 

Boa Vista não é mais a mesma dos meus tempos de criança. Lembro que antigamente – na década de 70, bem antes da inauguração da BR-174 – dormíamos, sem problemas, de portas e janelas abertas, principalmente no verão, para aproveitar a brisa da noite – a cruviana. A energia era cortada às 22 horas – talvez às 23:00, não lembro bem. O desabastecimento de gêneros alimentícios era uma constante. Não tinha água encanada… nem emprego! Mas as pessoas andavam tranqüilas. Poucos queriam ter mais do que tinham, até porque não se tinha parâmetros de avaliação da própria condição sócio-econômica, pois a população era quase homogênea. Ah… não tinha televisão. Rádio, só a Roraima AM, onde o meu tio, José Laureano de Souza, trabalhava.

Ocorre que o “progresso” chegou: a BR-174, a televisão, as rádios FM… e as migrações. A meu ver, o mais importante de todos os eventos da história de Roraima foi a instalação da Universidade Federal. Me orgulho de constar na lista de aprovados no primeiro vestibular da instituição, no curso de Economia. Foi este o nosso grande momento. Qualquer dia desses tiro um tempo para relembrar os desafios que enfrentamos, tanto o corpo docente quanto o discente, para consolidarmos a UFRR. Mas agora ela está lá: crescendo, dando frutos. E parte importante da minha vida está escrita naquele campus. Gostei tanto que concluí um segundo curso – o de Direito.

Hoje Boa Vista caminha para ser identificada como cidade universitária, projeto de longo prazo que está se construindo aos poucos, uma vez que após a UFRR, começaram a surgir outras instituições de ensino particular e, mais recentemente, foi instalada a Universidade Estadual. Eu mesmo dou aula de Direito Tributário na Faculdade Cathedral. E tudo começou na UFRR!

Retornando ao paradoxo do “progresso”, o mundo se modificou nos últimos 30-40 anos, reflexo direto em Roraima. A violência urbana no Brasil por cá chegou. Cada vez mais somos vítimas dos tempos modernos. Hoje evito passar na bola da Rodoviária Estadual à noite, mesmo cedo, principalmente quando meu filho está comigo. E quando passo, certamente é com os vidros fechados, porque tem sempre um transexual jogando beijo. Não importa se o motorista está só, acompanhado de alguém, com criança ou adulto. Aliás, nesse sentido, também é desaconselhável passar com criança na Ataíde Teive à noite. Tem sempre um travesti com a bunda de fora, jogando beijo, assoviado… E se isso não bastasse, não faltam denúncias e reclamações de extorsão, assalto, agressões, etc., por parte daqueles “rapazes” que lá ficam tentando vender gato por lebre. E o que as nossas autoridade fazem? Nada! Tipificação penal não falta para esses casos.

E atenção! Aqui não se está recriminando a opção ou a orientação sexual, ou ainda o meio de ganhar a vida de ninguém – desde que seja honesto. O que estamos atacando é a falta de respeito para com o próximo, os demais cidadãos. Atacamos o uso criminoso do patrimônio público – ruas e avenidas da nossa cidade -, assim como os assaltos, furtos, as extorsões, já tantas vezes registrados nos livros de ocorrência policial. E já que a prostituição não é crime no Brasil – crime é o rufianismo – bem mais adequado é um anúncio de jornal ou coisa do gênero, para chamar a atenção de quem tem interesse no assunto, e não agredir, principalmente às crianças, com um visual e um comportamento difícil de explicar para um filho ou uma filha menor de nove anos.

Outra situação alarmante é quanto à proliferação de flanelinha. Não tem mais lugar de Boa Vista onde se vá que não tenha alguém pedindo pra “olhar” o carro. E o pior: quando há algum evento especial, tipo arraial da Prefeitura, arraial do Parque Anauá, ou mesmo festa em um clube qualquer da cidade, se colocam faixas sinalizadoras e uma placa: “carro: R$ 5,00. Moto: 3,00”. E ai de quem não aceite pagar! Dia desses, numa apresentação de Vale-Tudo no Ginásio Totozão, presenciei o maior absurdo do gênero – e olha que tenho andado em várias capitais do Brasil. O fato é que os guardadores de carros e motos fixaram as faixas no espaço interno do Ginásio! E havia policiais militares no local. Não fizeram nada!!

Mas a pior cena, mesmo, lembro agora, foi no show do Zezé de Camargo e Luciano, realizado na área frontal ao Estádio Flamarion Vasconcelos. Estávamos em frente da casa de uma conhecida quando o seu irmão estacionou o carro na calçada, em frente à sua loja. Um flanelinha, graciosamente, dirigiu-se ao motorista e disse que o estacionamento custava R$ 5,00. Quando o rapaz tentou explicar que ali era a calçada da irmã dele, o flanela achou ruim, disse pro rapaz tirar o carro, se não quisesse pagar, e que ele – o flanelinha – estava trabalhando. Acreditem que é verdade! Mas dessa vez a polícia agiu. Quatro militares da nossa Briosa PM tangeram aquele “trabalhador”.

E outra vez advertimos que não somos contra ninguém ou qualquer ato legal de se ganhar a vida. O que não podemos aceitar são os excessos. Não posso aceitar que o direito do próximo seja maior do que o meu. Que alguns sejam mais desiguais do que outros. Ou que outros sejam mais iguais do que alguns. Há formas e formas de se ganhar a vida. A pecha de que “estou desempregado” não autoriza ninguém a extorquir outrem. As autoridades têm que agir, tomar providências urgentes, imediatas, no sentido de ceifar estes e outros problemas gravíssimos que atormentam a nossa população. O Ministério Púbico tem um papel fundamental nestes casos. E obrigação de agir.

 

 

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