Paulo Thadeu Neves lança livro Recortes: Crônicas e Reflexões

Recortes: Crônicas e Reflexões, tem como capa o desenho Releitura, de Vinícius Luge – pintado em aquarela -, e charges do artista plástico Renato José.

O jornalista, radialista, professor de Filosofia e ativista político Paulo Thadeu Neves lançará o livro Recortes: Crônicas e Reflexões, com previsão para o próximo dia 25 de julho. É uma coletânea de 31 artigos selecionados, publicados ao longo dos anos, a maioria na revista Somos, da Federação do Comércio do Estado de Roraima, no jornal Monte Roraima, e nas redes sociais.

O autor explica que os três primeiros artigos versam sobre sua militância no movimento estudantil roraimense, que começou ainda no governo Getúlio Cruz (1985-1987).

Apesar da declaração, Paulo Thadeu nos brinda, ao final desta matéria, com o primeiro artigo do livro, que narra a “reorganização”, nas suas palavras, do Centro Cívico Escolar – CCE, da Escola General Penha Brasil, quando cursava a antiga 5ª série do 1° Grau, ano de 1984 – governo do General Arídio. E de quebra nos dá um retrospecto da história recente de Roraima, lembrando todos os governadores militares do antigo Território Federal. 

“O meu histórico é de militância no movimento estudantil, movimento sindical e em movimentos da cultura popular. E esta coletânea de artigos trata justamente de um largo período em que ocorreram muitas mudanças no cenário político-partidário brasileiro”, diz Paulo, que também apresenta o programa Informe Popular, na Rádio Monte Roraima, mas atualmente está licenciado em virtude da lei eleitoral, que proíbe pré-candidato a apresentar programa de rádio e televisão – uma vez que participa das discussões internas do seu partido, PCB – Partido Comunista Brasileiro , para viabilizar sua candidatura nas próximas eleições. A obra será impressa através da Fundação Dinarco Reis, ligada ao PCB.


 

Paulo Thadeu Neves

O ano era 1984…

Eu cursava a 5ª série do antigo 1º grau na Escola General Penha Brasil, localizada no bairro Aparecida, cidade de Boa Vista, no então Território Federal de Roraima. Em pleno período da Ditadura Militar. O Presidente da República era o General João Batista de Figueiredo e o Governador era o também General Arídio Martins de Magalhães. O primeiro era do Exército Brasileiro e o outro da Força Aérea Brasileira- FAB. A primeira ação que os militares fizeram em 1964 foi ratear os territórios entre as forças armadas. O território do Amapá recebeu o comando da Marinha, o de Rondônia o do Exército e para Roraima veio a FAB.

No período da ditadura militar, de 1964 a 1985, o nosso Território foi governado pelos seguintes militares da FAB: Tenente Coronel Dilermando Cunha da Rocha, paraense, governou 3 anos e 4 meses; Tenente Coronel Hélio da Costa Campos, carioca, governou 1 ano e 2 meses; Major Walmor Leal Dalcin, gaúcho, governou 10 meses. Pela segunda vez o Tenente Coronel Hélio Campos, mais 4 anos e 1 mês; Coronel Fernando Ramos Pereira, amazonense, governou 5 anos; Brigadeiro Ottomar de Souza Pinto, pernambucano, governou 3 anos e 11 meses; Brigadeiro Vicente de Magalhães Morais, paraibano, governou 9 meses.

Percebe-se que depois de 20 anos do golpe, ainda estávamos respirando o ar da repressão e da lavagem cerebral que diariamente sofríamos de alguns professores e da direção escolar. Nesse caldeirão antidemocrático, surge na escola a ideia de reorganizarmos o Centro Cívico Escolar – CCE, uma espécie de clube estudantil composto de uma diretoria escolhida a dedo pelo professor orientador e pela direção escolar. Todos queriam fazer parte do CCE.

A condição imposta pela direção escolar é que a diretoria do centro cívico deveria ser escolhida entre os líderes e vice-líderes das turmas de 5ª a 8ª série. Naquele ano eu tinha sido escolhido como líder da minha turma. Chegada a hora da reunião, a orientadora falou que por ser nova na escola e não conhecer ninguém, não iria permitir que houvesse uma eleição entre as lideranças, até porque segundo ela, “no ano passado, para a formação do CCE, foi realizada uma eleição e acabou em confusão entre os alunos”. Mas sugeriu que fosse realizado um sorteio para saber a composição da diretoria provisória do CCE.

Todos os alunos presentes na reunião colocaram o papel dobrado com o seu nome para o sorteio. Para minha surpresa o meu nome foi sorteado para ser o presidente do Centro Cívico Escolar. Os líderes das duas oitavas não concordaram, por não admitir que um aluno da 5ª série, com apenas 12 anos, pudesse presidir um clube estudantil. Mas a “palavra” da orientadora prevaleceu.

E assim começa a nossa militância estudantil, em plena ditadura militar, sendo eleito através de um sorteio. O resultado disso tudo… É que depois de 34 anos… Eu continuo na luta.

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