A inexorável efemeridade da vida – umas histórias da Boa Vista antiga

Gosto muito de imagens antigas, estáticas e em movimento. Gosto de músicas antigas. Às vezes sou tomado por nostalgias – isto mesmo: nostalgia no plural. Parece que vivi em várias épocas, em muitas épocas. Todas as épocas. E todas essas épocas às vezes parecem transpassar minha mente, num fluxo e refluxo.

Nasci em 1965 na cidade de Boa Vista, antigo Território Federal de Roraima, e muito, muito pobre. Vivíamos quase na idade média, naquele tempo. Sou da lamparina, do farol, da água tirada do Rio Branco, das lavagens de roupa no cais, no igarapé do Caxangá ou no igarapé do Pricumã. Eram os locais onde a minha avó lavava roupa, ela própria lavadeira profissional por um bom tempo, além de costureira. Criava galinha do quintal. Pato, porco, eventualmente cabrito. Fogão a lenha. Tinha o fogão grande, com chapa de ferro – onde a gente colocava a bunda da tanajura pra assar. E tinha o fogareiro, onde usava-se graveto e querosene para fazer o fogo do carvão pegar. Água dos potes – a minha avó tinha dois e uma bilha. Dos potes, ela achava que o de barro escuro era o que mais gelava. A água era retirado pelo púcaro, sempre bem ariado com areia – desculpem o pleonasmo – ou folha de caimbé.

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