É hoje o lançamento do livro Recortes: Crônicas & Reflexões, do jornalista Paulo Thadeu

O jornalista Paulo Thadeu Neves lança hoje à noite o seu livro, uma seleção de artigos publicados ao longo de sua militância política.

Debates em vão!

Por Sérgio Murilo

Aí, você olha
e não sabe se escuta,
você escuta
e não sabe se acredita.
Porque a história pregressa
é maculada, maldita!
E aqueles que estão iniciando
não apresentam nada diferente:
“Vou mudar o Brasil quando for presidente!”
São palavras aguerridas,
gestos contundentes,
são frases floridas,
discursos reluzentes.
Tantas promessas em vão,
tanto teatro, quiçá, comédia ou não.
Invadindo casas em horário nobre,
seja rico, seja pobre.
Talvez um drama fanfarrão,
num debate em plena televisão.
Ali, só não se vê,
a mais sublime verdade,
a expressão com seriedade,
a certeza de que se vai fazer.
Aí, você olha
com seu rosto em prantos
e percebe as dores do povo,
com seus desencantos,
com seus dissabores.
Sem horizonte, sem porto seguro,
sem veredas, sem flores.
Sem rumo, sem prumo, sem futuro.

Paulo Thadeu Neves lança livro Recortes: Crônicas e Reflexões

Recortes: Crônicas e Reflexões, tem como capa o desenho Releitura, de Vinícius Luge – pintado em aquarela -, e charges do artista plástico Renato José.

O jornalista, radialista, professor de Filosofia e ativista político Paulo Thadeu Neves lançará o livro Recortes: Crônicas e Reflexões, com previsão para o próximo dia 25 de julho. É uma coletânea de 31 artigos selecionados, publicados ao longo dos anos, a maioria na revista Somos, da Federação do Comércio do Estado de Roraima, no jornal Monte Roraima, e nas redes sociais.

O autor explica que os três primeiros artigos versam sobre sua militância no movimento estudantil roraimense, que começou ainda no governo Getúlio Cruz (1985-1987).

Apesar da declaração, Paulo Thadeu nos brinda, ao final desta matéria, com o primeiro artigo do livro, que narra a “reorganização”, nas suas palavras, do Centro Cívico Escolar – CCE, da Escola General Penha Brasil, quando cursava a antiga 5ª série do 1° Grau, ano de 1984 – governo do General Arídio. E de quebra nos dá um retrospecto da história recente de Roraima, lembrando todos os governadores militares do antigo Território Federal. 

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A Copa do Mundo não é mais como antes

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Volta olímpica do primeiro título mundial em 1958

O brasileiro já não gosta tanto de futebol como antes, ou a sociedade tem amadurecido e passado a ver este esporte apenas como mais uma opção de diversão popular? Seja qual for a resposta, tenho percebido que a Copa do Mundo de Futebol da Rússia não tem empolgado como em outros tempos, quando o ano já começava em contagem regressiva e o assunto dominante era o escrete canarinho. Alguém lembra qual o hino da Copa 2018? E da Copa 2014? Lembramos dos 90 milhões em ação… Do Dá-lhe, dá-lhe bola/ Meu canarinho vai deixar a gaiola/ Vai pra Espanha…

Teria o 7×1 da Alemanha desiludido o torcedor? Pelo fato de ser um ano eleitoral, estaríamos com a atenção mais voltada para a política do que para o futebol? Uma consulta ao oráculo nos revelou uma realidade mais complexa.

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Cachaça e poesia – Sérgio Murilo

Da esquerda pra direita: o músico Luiz Carlos Pereira, recentemente desencarnado, e o poeta Sérgio Murilo, bebemorando a música e a poesia.

Sou um poeta fecundo,
espargindo mel e flores,
sucumbindo prantos, dores.
Emanando o amor pelo mundo.

Sou também, errante.
Derramo, por vezes, a peçonha.
Boto de lado a vergonha
e me faço um ser lancinante.

Ora, adoro brincar com as cores,
embalado por doce melodia.
Ora, açodo os dissabores,
evidenciando a minha rebeldia.

Sou um bardo sem pudores,
banhado de cachaça e poesia.

 

Sérgio Murilo

Ao meu passado

Diante da estante de livros velhos
vejo o meu tempo corrido, passado,
muito mal passado, tempo sofrido,
tempo sonhado, tempo vivido, gozado

Vejo meu tempo corrido, perdido,
muito tempo perdido, complicado,
perplexo, mal aplicado, devaneios,
depressão, sinceros antolhos

Tinha muito tempo, meu próprio tempo,
todo o tempo do mundo pra gastar,
esbanjar, pernoitar, esperdiçar

Mas agora a ampulheta
tem menos da metade da areia,
e caindo! Esvaindo…

 

Boa Vista, 10/05/2018

O Brasil que eu quero

Então eu ligo o computador e, enquanto o windows carrega, fico pensando no Brasil que eu quero. Bem que queria enviar o meu vídeo para essa campanha da Rede Globo de Televisão. Mas em primeiro lugar acho a ideia ridícula, algo pensado simplesmente para manter as pessoas ligadas na telinha do plim-plim. O que isso poderá acrescer a nós, brasileiros? Ao país? Tudo inútil. Mas o anjinho vem e me diz que eu estou sendo radical, pequeno-burguês que detém um blog de grande penetração e fantástica capacidade de expressar o pensamento através da escrita, o que não é o caso do brasileirinho comum, público-alvo da campanha.

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Reflexões de um só

Foto: Assis Cabral

Murmúrio pálido de um corpo
que sofre as desgraças
da dor de não ter ninguém

Oh! solidão demoníaca,
que saudades me vêm
dos tempo de criança,
quando sozinho brincava
sob os olhos da avó querida

Ou quando cantava
às paredes, no banho de cuia
e minha mãe ouvia aquele cântico

Saudade atroz!
Do murmúrio forte
do vento que soprava no teto
da casa de taipa,
na minha terra querida,
carregando o coraçãozinho
de forte esperança na criança
que em verdade
nunca soube da vivência
de ter grandes amigos

Dor máxima,
de intensidade maior
que os ventos noturnos,
daqueles que quase arrancam as palmas
dos buritizeiros nos campos
verdes do lavrado macuxi

Dor máxima,
mais forte que o sol
que queimava meu rosto
quanto tentava, contra o vento,
levar, a pedaladas,
a bicicleta adiante

Dor… Dor…
dor da saudade
da solidão das estrelas,
quando lembro meu céu
cheio de cores,
da minha lua de esplendor maior

Dor mais forte ainda quando,
na madrugada calorenta e abafada
(tão diferentes das minhas madrugadas
amenas de vento forte da savana)
acordo sedento e não há
nenhuma gota d’água
para aliviar a sede dos tempos d’outrora

Não vejo mamãe…
não vejo maninha…
não vejo maninho…

Manaus, 07/08/87

PARADOXO

Havia um barco
chamado saudade,
no qual eu detestava navegar

E um patamar,
plácido recanto de almas
sob as luzes da ribalta
que eu tanto amava

Havia também
uma criatura
do outro lado do céu,
que falava italiano,
tinha olhos azuis
e cabelos cacheados,
da cor do trigo maduro

Eu muito a observava
entre a multidão dos perdidos

E assim foi
por algum tempo,
até que numa noite
nossos olhos se encontraram

E nos maravilhamos muito,
amando-nos profundamente
Todos os dias
sonhávamos juntos,
no vale encantado dos ébrios errantes,
sobre a relva fresca regada
pelo orvalho da manhã,
onde cavalgavam
unicórnios azuis alados

Mas um dia,
numa das manhãs de outuono,
ela não veio comigo
ver o sol nascer,
pois partiu pra guerra
como concubina do general de Mussoline

E eu fiquei
no mundo dos homens,
vagando entre os desfiladeiros,
vivendo das miragens
que se formam no deserto
em que nosso vale se transformou,
naufragando a cada olhar de Carlitos

(Manaus, 18/12/1987)

O Norte do Brasil ameaçado – devaneios de um escritor frustrado

Explicação

Produzi este texto há uns anos atrás, baseado no relato de um fictício estudante que esteve aqui em Roraima e constatou o quadro sintetizado abaixo. Foi devaneio mesmo. Mas achei um desafio literário para pretenso escritor sem qualquer talento para tal. Portanto, sugiro ao leitor que resolva perder seu tempo com este arremedo, que o faça apenas como diversão. Se conseguir extrair algumas rizadas, já me dou por satisfeito. Chamo atenção para a referência ao amigo Flávio Aguiar – quem realmente me repassou o texto do suposto estudante do Sul. Espero que não me cobre royalty pelo uso indevido do seu nome. 

Ficção ou fantasia?

Um pássaro serpenteia sobre sua cabeça. O calor do sol abranda-se com a brisa que corre fresca na manhã de inverno. O jovem cientista observa o trafegar de formigas aos seus pés. Tão atentas ao trabalho que estão, esquecem-se de ferroá-lo. “Para quê?” pensa ele. “Só iriam perder tempo e correr risco de vida”.

Alemão, não conhece o português, o uapixana, o macuxi. Domina o inglês, o francês, o italiano e o espanhol, além de seu idioma pátrio. Sempre soube que a Amazônia é patrimônio da humanidade. Curiosamente, encontrara em alguns arquivos antigos, na biblioteca da universidade, constatação de que há mais de cem anos a região pertencera, na sua maior territorialidade, ao Brasil. Mas parece que esta parte do passado o mundo não quer lembrar – nem mesmo o Brasil. A partir daí teve a ideia de desenvolver sua tese de doutorado sobre o processo de dominação estrangeira da Pan-amazônia.

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