COVID-19 é o carrasco dos longevos

Tudo o que sei sobre vírus foi o que aprendi na escola primária, secundária e cursinho pré-vestibular. No cursinho, lembro bem do professor Mozart fazendo um desenho a giz – “O vírus é isto: uma cápsula de proteína”. A característica distinta, pois, é ser acelular, o único “vivente” não composto por célula: é proteína e material genético. Com inigualável mutabilidade, resulta uma excepcional máquina de guerra. Esse assassino que não sente dor, remorso ou culpa por suas vítimas, não ceifa somente vidas, mas liberdade, livre-arbítrio, sonhos e encontros.

O meu filho vem me dizer que amanhã vai a um aniversário num sítio. Como se o sítio estivesse livre do COVID-19. Ainda não caiu a ficha de que esse ser invisível aos nossos olhos está no ar, nos teus pés, ao pé da cama, no tapete atrás da porta. O vírus da morte está em todos os lugares, até mesmo no toque da mão amiga, no beijo do ser amado.

Estou escrevendo tudo isto baseado unicamente nos resultados revelados pelos meios oficiais e extra-oficiais de comunicação. A situação da Itália é um show de horrores. Um país cuja população conquistou o segundo maior contingente de idosos do planeta, se não me engano, perdendo apenas para o Japão, está sofrendo a perda cruel e dolorosa dos seus alegres e vívidos velinhos, que até há poucos dias tinham à mesa a dieta do mediterrâneo, vinho com gorgonzola, aos goles do mais puro azeite de oliva, agora morrendo de uma das mais dolorosas formas possíveis: asfixia, aos poucos, devagar, ansiando pela morte, que de birra, reduz o passo pra chegar.

Estou gripado, com tosse seca, coriza, tudo agravado pela alergia crônica. Aos 55, estou na mira do COVID-19. Mas pouco preocupado comigo mesmo. Preocupado com minha mãe, meus sogros, meus amigos. De repente percebo que aqueles amigos mais velhos da minha adolescência são sexagenários. E pensando em mim mesmo, não tenho tanto medo da morte, pois é um efeito natural da vida. Como dizia o Chico Xavier: não se tem medo da morte, mas da dor da morte. E que morte dolorosa deve ser, meu Deus!, por falta de ar. Tenho ideia disso, pois, alérgico, inúmeras vezes acordo com falta de ar, nariz entupido, às vezes até à garganta…

Desculpem se pareço melancólico, mas não estou. Estou pensativo. Pensativo quanto ao comportamento das pessoas no momento vivido, querendo a conscientização de que ao cumprirmos a quarentena, na medida do possível, o estamos fazendo não só por nós, mas por nosso pais, avós, filhos e netos, e, mais que isto: pela raça humana!

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