Eugenia, COVID-19 e nós

ALDEIA GLOBAL – Quando o filósofo canadense Herbert McLuhan (1911-1980) insculpiu este termo, na década de 60 do século passado, fomentou a ideia de que os avanços científico, tecnológico e das comunicações, reduziam o mundo a uma aldeia, onde as ações têm reações em ampla cadeia, num reduzido espaço de tempo. E o termo nunca foi tão atual, como podemos constatar nesta pandemia do COVID-19.

Outro conceito revivido pela pandemia viral é eugenia, cuja memória a civilização ocidental tenta esquecer desde a Segunda Guerra Mundial. Grosso modo, a eugenia é bifurcada em duas alas: positiva e negativa. A positiva é exemplificada no beneficiamento da espécie humana através de “cruzamentos” entre “matrizes” selecionadas, ou ainda modificação genética, de modo a produzir seres “superiores”. A negativa remonta aos nazistas, que com a solução final tentaram exterminar os judeus, considerados raça inferior, e os deficientes de toda ordem, como forma de “purificar” a raça humana.

E o novo Corona Vírus é isto: propaga-se de uma forma jamais vista, com grande poder de transmissibilidade. Em dezembro passado a epidemia nos parecia algo como as grandes muralhas ou os guerreiros de terra cota: coisas da China. Cerca de três meses depois estamos nós aqui em Boa Vista de quarentena, sem poder – ao menos sem dever – ir ao Bar do Dedinho comer porco assado com cerveja gelada, ou uma gelada com panelada no Bar do Cutuvelo. Como cantou Raul Seixas, estamos vivendo “o dia em que a Terra parou”.

O grau de letalidade do vírus, em sentido amplo, é baixo. Em regra, não mata crianças, jovens e adultos saldáveis. Mata os mais velhos e doentes. Em outras palavras, o COVID-19 está promovendo uma eugenia negativa na humanidade, eliminando velhos e doentes, não necessariamente nesta ordem.

E por que os jovens e saudáveis, incluindo as crianças, não podem viver suas vidas normalmente, indo à escola, bares e restaurantes, ou encontros em motéis? Claro que não é para preservarem as próprias vidas, pois, num primeiro plano, nestes a infecção tem se manifestado como uma simples gripe, ou até assintomaticamente. Estão protegendo os anciãos, nossos queridos velinhos. Aliás, eu mesmo já na rota de mira do vírus.

Sabemos que dificilmente uma epidemia virótica não atinge a grande maioria da população e que, justamente, perde a sua força de propagação e começa a decrescer quando essa grande maioria é contaminada e desenvolve imunidade ao elemento agressor. E este é mesmo o principio da técnica de vacinação: injetar o vírus morto no organismo humano para criar a imunidade natural, sem que o vacinado fique doente, sentindo, no máximo, alguns sintomas. Primitivamente, era assim que os nossos avós faziam quando tinham um neto com sarampo, por exemplo: reuniam toda a molecada para que se contaminassem logo, enquanto criança, para adquirir imunidade à doença pelo resto da vida.

Então, com a velocidade de propagação do COVID-19 através de aviões, trens, automóveis, ônibus e metrôs via gotículas, “todos nós”, uma hora ou outra, estaremos contaminados. Alguns nem notarão isto. Outros morrerão. Os mais débeis, os mais fracos, num processo de eugenia via eutanásia. Este é o pingo do i: a letalidade é alta nestes grupos e, dada a velocidade, se todos nos contaminarmos em pouco tempo, não haverá leitos, material e equipamentos médico-hospitalares para todos, com os profissionais de saúde tendo de escolher quem vai morrer sumariamente, ou terá alguma chance de lutar para sobreviver. Pois é isto o que somos para a natureza: seres biológicos que nascem, crescem, se reproduzem, definham e morrem. Tanto quanto o vírus.

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