Militância burra e mau caráter – o caso da interceptação

Nos últimos meses autoridades governamentais, em especial o ministro da Justiça, Sérgio Moro, têm sido vítimas do site The Intercept, comandado pelo intitulado jornalista estadunidense Glenn Greenwald, que é um notório militante da “esquerda”. Não precisa recontar a história porque todo mundo já conhece. Mas em síntese, houve estardalhaço inicial, com o anúncio de matérias revelando, a conta-gotas, a imparcialidade do então Juiz Moro na condução dos processos da Operação Lava Jato. Enfim, foram sendo soltos, aos poucos, trechos de supostas conversas entre os membros do Ministério Público Federal, alguns apenas citando o então juiz, e umas poucas conversas, supostamente, do próprio então magistrado com os membros do MPF, especialmente com o chefe da equipe da Lava Jato, Procurador Deltan Dallagnol.

Sem que as conversas tenham sido confirmadas pelas vítimas do “hacker” que estaria alimentando o Intercept, “anônima e voluntariamente”, para quem tem um mínimo de conhecimento de direito processual, rudimentos de prática forense, mínimo de honestidade e retidão de caráter, mesmo que as conversas fossem verdadeiras, nenhuma das postagens sequer arranha a integridade do ex-magistrado na condução dos processos, assim como das equipes do Parquet e da Polícia Federal, desde a fase de inquérito, até a fase decisória. Só assim não entende quem tem má fé ou, pelo menos, sofre de burrice congênita – sem querer ofender os burros, ou os demais animais. Mas só animal irracional, ou mau caráter, agride em público Sérgio Moro, Deltan e Polícia Federal por suas condutas na Lava Jato. Mas me penitencio! Nem todos são burros ou mau elementos. Há os ingênuos natimortos e os idiotas de toda ordem. Os militantes que se incluam no grupo com o qual mais se identificam.

Para o Intercept, melhor do que divulgar as denúncias do “hacker” anônimo e voluntário, seria o repercutir o livro Lava Jato, do verdadeiro jornalista Vladimir Netto – filho da também jornalista Miriam Leitão.

No começo de 2013, já de volta a Curitiba, Moro foi à posse do novo superintendente da Polícia Federal no Paraná, Rosalvo Franco.

– Faz tempo que a gente não tem uma operação financeira aqui no estado – comentou o juiz em conversa com o delegado.

A gestão anterior não havia priorizado esse tipo de crime e a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros ficara esvaziada, com os inquéritos quase parados.

– Vou dizer uma coisa para o senhor. Não vou inventar a roda. Vou trazer para a delegacia as pessoas que já trabalharam no setor – respondeu Rosalvo.

Isso fez toda a diferença. Em pouco tempo, os experientes delegados, especialistas em crimes financeiros, começaram a trilhar o caminho que os levaria a Alberto Youssef – pp. 31-32.

Depois das prisões da primeira fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal tinha de avaliar o que havia sido reunido e definir novos rumos para a investigação. Seria necessário um trabalho meticuloso. Até porque o juiz Sergio Moro já era conhecido pelo rigor com os processo sob sua tutela. “Esse olhar atento dele passa segurança pra gente. Quando tem que puxar a orelha, ele puxa. Indefere monitoramento, não aceita denúncia quando não vê fundamentação, não pede prisão. O olhar dele é preciso”, afirmou Erika Marena, em entrevista para este livro – p. 36.

(…) em uma reunião em uma charutaria de Curitiba, alguns advogados de defesa provocaram o advogado de Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto. Disseram que a operação iria acabar em Brasília.

– O único que vai trabalhar aqui é você. Nós vamos ficar ricos sem trabalhar – brincaram.

Basto rebateu firme:

– Vocês estão enganados. Esta merda vai virar um inferno. E vocês não estão preparados para isso. Eu conheço o cara. Eu conheço o Sergio Moro – pp. 43-44.

Mão firme

Quem é o homem do qual todos os investigados querem distância? Muita gente gostaria de conhecer melhor a intrigante personalidade do juiz federal de primeira instância do Paraná que conduz com mão firme uma investigação imensa e complexa, que, de repente, foi alçado à condição de celebridade. Nascido em 1972, Sergio Moro faz parte de uma nova geração de juízes, formada depois da Constituição de 1988, que trabalha com afinco em busca de resultados. Moro chega cedo ao trabalho e mostra desconforto com a notoriedade que ganhou. Seus funcionários dizem que é um líder seguro, mas que no trato pessoal é discreto, até meio tímido. De hábitos modestos, gostava de ir para o trabalho de bicicleta e de almoçar em casa ou no “bandejão” do prédio da Justiça Federal, em meio aos servidores – p. 44

Não tenho procuração para defender o ex-juiz Sérgio Moro. Nem a equipe da Lava Jato. Declarei o meu voto à Presidência e fiz campanha virtual para Jair Bolsonaro. Me indispus com amigos queridos – ou melhor: eles se indispuseram comigo. Alguns perdi. Mas como desde logo deixei claro, não há apoio incondicional, nem político de estimação. Tenho traçado alguma críticas ao presidente Bolsonaro: totalmente contra a indicação do Eduardo para a Embaixada em Washington. Nada justifica! Nem que o rapaz fosse diplomata de carreira. Isto por vários motivos, se não de ordem legal, de ordem moral. Vários aliados já se manifestaram publicamente contra, com destaque para Olavo de Carvalho. Votamos no Messias para mudar o Brasil, torná-lo uma verdadeira República, por isso também entendo que os filhos devem sair das costas do pai. O Carlos, especialmente, tem que se conscientizar que Jair presidente é figura pública, não seu pai. É o Presidente da Nação, chefe de Estado e de Governo, cargos políticos na essência, tendo que conviver – e sobreviver – entre cobras e lagartos das mais variadas categorias e dimensões. Não tem nada que dar pito em porta-voz da Presidência, em ministro de Estado. Isso não é atribuição de vereador da cidade do Rio de Janeiro. E Carlos também não deve expressar sua opinião de mero cidadão, pois não o é! É filho do Presidente – o 02. São os ônus e paradoxos do poder.

O próprio presidente Jair Bolsonaro deve cair na real de que já não é mais um parlamentar, cuja função é parlar. Ele agora é Presidente da República, chefe do Poder Executivo da União. O Capitão-Mor. Ao Presidente não cabe criticar em público, mesmo em conversa de pé-de-orelha, outros chefes de Executivo, seja governadores ou prefeitos. Nem anunciar um ministro do Supremo “terrivelmente evangélico”, já antecipando o nome do atual advogado-geral da União, André Luiz de Almeida Mendonça – aliás, André Luiz é um nome tipicamente espírita. O Presidente tem que escolher para o Supremo “cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada”, como manda o art. 101 da Constituição Federal – mesmo que “por acaso” seja evangélico e tenha a acolhida do atual presidente da Corte, Dias Toffoli, com quem, segundo o jornalista José Nêumanne, André Luiz tem um passado e um presente muito próximo.

Mas isso é motivo para me arrepender de ter votado em Bolsonaro? Claro que não. Achar que Haddad seria melhor na Presidência? Deus me livre! A questão é que não há militância pró-Bolsonaro, nem apoio incondicional da minha parte. Mas também não há militância anti-Bolsonaro e repulsa incondicional e imotivada. Trata-se do Presidente da República Federativa do Brasil, em quem nós apostamos os nossos votos como a única opção fatual possível, como ele mesmo diz.

Voltando ao ministro Sergio Moro, a sua conduta profissional tem sido ilibada, sim, pelo menos ao que se conhece até agora. Ter largado a magistratura para ser ministro de Estado, a meu ver, foi uma loucura. Decididamente, não foi um atalho para chegar ao Supremo. Como juiz a sua indicação seria mais provável, dada a notoriedade que alcançou – embora tantos outros ministros da Justiça tenham chegado à Corte Suprema. Talvez uma carreira política, a começar pela vice-presidência de Bolsonaro numa possível candidatura à reeleição, ou mesmo a cabeça da chapa, numa também possível escusa de Jair concorrer novamente, como também já se pronunciou. Enfim, são planos, projetos e ambições pessoais: procedentes, legítimos. O que em nada compromete a imparcialidade do seu juízo na decisão contra Lula, na condição de magistrado. Aliás, a questão na pauta do Intercept é a condenação de Lula. A juíza substituta – em estágio probatório – Gabriela Hardt, que, nas vacâncias de Moro, ocupou a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, também foi “hackeada” e está sendo dissecada pela camarilha petista e satélites. Então, fica claro que a ideia é derrubar Moro, Bolsonaro e o Brasil, tudo para libertar Lula, por ser um preso político e injustiçado. Como numa conversa com um grande e querido amigo jurista, crítico ferrenho de Moro, quando comparei Luis Inácio a outras “vítimas” da canetada do então juiz:

– O Cunha é culpado ou inocente? Merece ser solto?

– Não! Aquele é um ladrão vagabundo! Tem que apodrecer na cadeia.

– E o Marcelo Odebrecht?

– Outro safado!

– O Léo Pinheiro, que delatou Lula, é inocente?

– Quem? Aquele? É ladrão até onde não pode mais!

– E o Lula?

– Ah… o Lula não! O Lula é inocente! Não há provas contra ele!!

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