O legado de Bolsonaro: Lu-la-lá!

Luiz Felipe Pondé – Filósofo

“Uma grande ironia da história recente é que ele, de alguma forma, chegou ao poder navegando numa onda pra tirar o poder do PT. E, pela lástima que ele é, ele talvez traga o Lula de volta pro poder, como, talvez, uma espécie de senhor salvação para o Brasil, o que mostra como a linguagem dele é falsa, o discurso dele é retórico e impreciso do ponto de vista histórico mais próximo.” (Luiz Felipe Pondé, Linhas Cruzadas, TV Cultra, 07/01/2021.)

É claro que o leitor já percebeu que Pondé se referiu a Jair Messias Bolsonaro, ainda no início do seu manadato. Pessoalmente, comecei a perceber JMB como deputado federal quando deu voz à maioria numérica dos brasileiros, sufocados por uma minoria representada no parlamento brasileiro, liderada pelo Executivo entronado pelo Partido dos Trabalhadores. Apesar de entender que o Brasil merecia coisa melhor, acabei votando no Capitão “pra tirar o poder do PT”. Ele mesmo me deu a deixa, numa entrevista, onde disse reconhecer não ser a melhor opção, mas que era a única disponível. Concordei e votei!

E o Bolsonaro se revelou a lástima que é, parafraseando Pondé. Eu amanhecia o dia procurando saber da última merda que o Jair tinha falado. E ele falou muita merda! Insistia, reiteradamente. Falou mais merda do que Lula. Mas também é verdade que fez muito menos merda do que Lula e Dilma fizeram, e do que Lula está fazendo agora, no terceiro mandato. E este é o problema! Lula fala merda? Muita! Mas faz muuuito mais do que fala. E ele só está ali, no trono da Presidência, graças ao Messias.

Vamos lembrar do que Jair está sendo acusado, e até perdeu os direitos eleitorais: se apropriar de joias que foram dadas de presente a ele e à esposa, na qualidade de presidente. Lula e Dilma se apropriaram de caminhões! Depois tiveram um prazo para devolver – quando bem entenderam. Essa conduta de Bolsonaro, por si, já é deplorável! Coisa de batedor de carteira! Lula foi acusado e provado, depois desprovado, de participação direta e indireta no desvio de bilhões de reais. Saquearam a Petrobrás, saquearam o fundo de pensão dos Correios, e por aí a fora. E o Bolsonaro acusado de falsificação de caderneta de vacinação! E de criticar as urnas eletrônicas. Eu já não aguentava mais essa ladainha. Dizia que tinha provas de que as urnas poderiam ser violadas. Que um “hacker do bem” tinha provas, convocou cadeia nacional pra demonstrar isso. Fiz pipoca, abri uma garrafa de guaraná, sentei-me em frente à TV pra ver o pronunciamento e… nada! Hoje sabemos que o “hacker do bem” é a mesma figura responsável pelo álibi que proporcionou argumentos para o fim da Lava Jato e “descondenar” Lula. Não era pro Jair sequer tomar conhecimento de qualquer coisa vinda dessa caricatura.

A Janaina Pascoal tem razão quando diz que a reunião do Bolsonaro com os embaixadores, pra falar das urnas eletrônicas, foi PA-TÉ-TI-CA! E foi mesmo!! Quem lembra dos semblantes dos embaixadores? Da perplexidade deles, se entreolhando? Eu fiquei confuso, perplexo, morrendo de vergonha do meu presidente, do presidente do meu país. O cara é o presidente da República e convoca todos os embaixadores dos países com relaçẽs diplomáticas pra falar… das urnas eletrônicas, um assunto interno. O que ele pretendia com isso? Pedir, garantir, apoio pra um eventual golpe? Um golpe em plena vigência do seu mandato? Um golpe em quem? Na sua presidência? No Congresso??

Aliás, eu fico imaginando o que se passava na cabeça do Jair. Ele queria que os militares dessem um golpe e jogassem os poderes ditatoriais no seu colo? Todo brasileiro médio percebeu, sabia, que durante todo o governo se trabalhou o ambiente pra um golpe visando poderes ditatoriais nos moldes de 64, num contexto internacional completamente diverso. Mas quem daria o golpe? Os militares? E quem seria o ditador? O Capitão? Acho pouquíssimo provável. Primeiro porque ele é capitão da reserva, e foi um péssimo oficial. Mais fácil seria entregar ao vice, general quatro estrelas.

Getúlio Vargas, com 1,63m de altura, comandou um levante, foi a galope do Rio Grande do Sul à então Capital, Rio de Janeiro, e amarrou seu cavalo no obelisco da Avenida Rio Branco – figurativamente. Foi o líder civil com apoio militar do então tenete coronel Góes Monteiro. E o Jair, morando no Alvorada, trabalhando no Planalto, comandante supremo das Forças Armadas? Ah… ele fazia motociatas, andava de Jet Sky e tirava férias.

E os filhos? Um é vereador no Rio de Jeneiro. Figura obtusa da qual nunca ouvi a voz. Mas e o deputado federal e o senador? Esse dois deveriam ter sido a voz de Bolsonaro no Congresso. Mas silenciaram. Falaram uma besteira aqui e outra ali. Na prática, completamente inúteis ao movimento da direita no Congresso. Bolsonaro e o bolsonarismo deixaram claro que não são e nem representam os interessas da direita. São reacionários, populistas e estatizantes. São um PT com sinal trocado. E quando escrevo PT, me refiro a PT, PSOL & Cia.

Enfim, o que vimos foi a “lástima” de um presidente completamente apegado ao poder, ansiando por um golpe que o perpetuasse, mas sem pulso, sem força e sem coragem pra assumir a liderança desse golpe, mesmo que já soubesse que estava fadado ao fracasso. E ainda pior: no trono da presidência, bombardeando diariamente os demais poderes, sobretudo o Judiciário, com o mero intuito de enfraquecer as instituições, mas com a narrativa de agir nas “quatro linhas”. Isso o enfraqueceu enquanto lideraça, pois demonstrou a sua frouxura. Tanto que após a consagração de Lula como presidente eleito, se recolheu em prantos e fugiu pros Estados Unidos. Nem Jango fugiu do País. É mentira que a Presidência da República ficou acéfala. O Rio Grande faz parte do Brasil. O que Jango fez foi se entrincheirar onde se sentia mais seguro, seu Estado natal, e onde seu cunhado era governador e líder.

Todos os dias Bolsonaro fazia questão de lembrar da existência de Lula, lulismo, PT, petismo, corrupção… apostando na polarização. Parecia adventista do Sétimo Dia, que se preocupa e fala mais do Diabo do que de Deus. Ao contrário de Lula, que já determinou que ninguém mais do seu governo fale publicamente de Bolsonaro e bolsonarismo.

Enfim, eu passaria aqui horas a fio escrevendo sobre a minha mágoa em relação a Bolsonaro. Frouxo, fraco, burro!! Perdeu a eleição pra ele mesmo. E no final quem perdeu fomos todos nós, brasileiros, de centro, direita, esquerda ou do raio que o parta. O Lula não ganhou, ele, JMB, que perdeu. E perdemos todos nós! Se tivesse falado um pouco menos merda e se comportado um poquinho só como estadista, o PT não teria voltado ao poder e o País não estaria nessa rota em direção à tragédia.

Inflação: o dragão voltou?

Capa revista Veja, ed. 913, 05/03/1986.

Sou da geração que sofreu os danos da inflação nos anos 80, a “década perdida”. Era bancário quando, numa manhã de terça-feira, 28 de fevereiro de 1986, cheguei no trabalho e fui informado, como os demais colegas, que não haveria expediente. Ninguém tinha ideia do porquê. Nem os gerentes. Um deles ainda arriscou que seria uma celeuma entre a FEBRABAN e o governo federal, presidido por José Sarney. Mas na verdade se tratava do Plano Cruzado: tabelamento e congelamento geral de preços, ensejando o surgimento do “fiscal do Sarney”. Foram cortados três zeros do velho cruzeiro, com a intenção de promover em 1.000% o poder de compra da nova moeda, o cruzado – primeiro plano heterodoxo de relevância no Brasil. A imprensa, em geral, apoiou. A classe empresarial e a maioria do staff político – menos o PT, claro!

Apesar de que a ideia seria descongelar os preços seletiva e gradativamente, o sucesso do plano foi tanto que o presidente decidiu manter o congelamento até às eleições, em outubro – não obstante os protestos do ministro da Fazenda, Dilson Funaro. Pra mim, figura icônica foi uma charge da revista Veja: Sarney com a perna congelada e Funaro tentando quebrar o gelo com formão e marreta. No final tudo isso virou folclore.

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O fator Bolsonaro e a ameaça da esquerda

Precisamos manter a serenidade e o senso crítico.

Se perdermos o senso crítico, então não teremos mais nada!

No sábado, 24 de julho/2021, manifestações anti-Bolsonaro se espalharam pelo Brasil, lideradas por “movimentos sociais” e entidades representativas de classe, em “defesa da democracia e do combate à pandemia da Covid-19”, com palavras de ordem pela queda do presidente democraticamente eleito. Teve quebra-quebra, aglomerações com pouquíssimo, ou nenhum, distanciamento, e o surgimento de um novo movimento: “Revolução Periférica”, que ateou fogo à estátua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo.

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Aonde queremos chegar?

Como já publicado neste Blog, o Brasil jamais foi um país pacífico. Nossa história é lavada a sangue de Norte a Sul. Ledo engano de quem imagina que estamos em período de paz. Estamos em pleno estado beligerante e não é de hoje! E o pior: estamos em estado de guerra civil não somente em armas e subtração da vida humana, mas com suporte ideológico de movimentos que insistem na desestabilização das instituições, da República, para assumir o comando pleno da nação. O ideal de uma “ditadura do proletariado” está vivo e visivelmente toma os meios de comunicação formais e informais – redes sociais, sobretudo, elaborado e gerenciado por mentes que sabem muito bem o que estão fazendo e aonde querem chegar, mas infortunadamente veiculado por pessoas que, na grande maioria, não exercitam a capacidade de discernimento, seja por falta de instrução formal, seja por ingenuidade, dentre outros fatores inibidores do senso crítico.

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Militância burra e mau caráter – o caso da interceptação

Nos últimos meses autoridades governamentais, em especial o ministro da Justiça, Sérgio Moro, têm sido vítimas do site The Intercept, comandado pelo intitulado jornalista estadunidense Glenn Greenwald, que é um notório militante da “esquerda”. Não precisa recontar a história porque todo mundo já conhece. Mas em síntese, houve estardalhaço inicial, com o anúncio de matérias revelando, a conta-gotas, a imparcialidade do então Juiz Moro na condução dos processos da Operação Lava Jato. Enfim, foram sendo soltos, aos poucos, trechos de supostas conversas entre os membros do Ministério Público Federal, alguns apenas citando o então juiz, e umas poucas conversas, supostamente, do próprio então magistrado com os membros do MPF, especialmente com o chefe da equipe da Lava Jato, Procurador Deltan Dallagnol.

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Tá na hora dessa gente bronzeada cair na real

Pensando aqui com meus botões: boa parte dos brasileiros ainda não se deu conta da realidade que estamos vivendo. Ainda creem que estamos na campanha eleitoral para a Presidência, com críticas inconsequentes ao governo eleito, como se Jair Bolsonaro candidato ainda fosse. E com verdadeira adoração ao “de sempre”, como se Lula, Dilma, a bandeira vermelha do PT, de uma hora pra outra, mudassem o rumo da História e tornassem a subir a rampa do Planalto. Ou ainda com o discurso “alternativo” tipo: Ciro Gomes & Cia. Aonde Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Haddad, Alckmin e Aécio representam alternativa?

Me sinto parcialmente responsável pela situação a que o País chegou, com a acensão da “esquerda” personificada no Partido dos Trabalhadores, afinal, dediquei todos os meus votos, desde o primeiro, àquela estrela vermelha, na esperança do combate à corrupção, ao coronelismo, ao atraso socioeconômico, pela redução das desigualdades. Foi assim até à primeira eleição de Lula. O Mensalão foi o meu limite.

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William Waack anuncia o sepultamento político de Lula

O jornalista William Waack comenta a segunda condenação do ex-presidente Lula neste vídeo do seu canal no YouTube – WW -, e chaga, em geral, às mesmas conclusões que chegamos em nosso artigo “Lula da Silva: uma caricatura de si mesmo“.

Lula da Silva: uma caricatura de si mesmo

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Foto: divulgação internet.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a sua segunda condenação na Operação Lava Jato: 12 anos e 11 meses de prisão pela juíza Gabriela Hardt. A pena é decorrente do processo que apurou o recebimento de propinas pelo ex mandatário, benesse configurada pelo sítio de Atibaia.

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Campanha mostra eleitorado conservador e intolerante

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O candidato Jair Bolsonaro surge como a única alternativa viável para se contrapor à esquerda pró-bolivariana

Roraima é o estado brasileiro mais isolado do país. Também o mais insignificante em termos eleitorais. O único candidato que “perde seu tempo” reportando-se a Roraima é Jair Bolsonaro. Um segundo já se reportou duas vezes: Ciro Gomes chamou os roraimenses de canalhas e, em caravana pela capital, Boa Vista, chamou um repórter, que lhe questionou sobre tal assertiva, de “filho da puta” e ainda mandou cabos eleitorais prendê-lo.

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O Brasil não é um país pacífico, regimes de exceção são a regra, e a democracia exceção. Quem quer a volta da ditadura militar?

Brasil, o segredo lusitano
Desde as caravelas de Cabral, em 1500, até a independência, em 1822, o Brasil esteve sob o regime centralizador de Portugal. Ilustração: site Resumo Escolar.

O título deste artigo resume tudo. O Brasil nunca foi um país pacífico, engana-se quem assim pensa. Quem quer a volta da ditadura militar? Engana-se quem imagina que isso vai resolver. Será apenas o retorno de uma prática constante em toda a história nacional: os militares concorrendo com o estamento burocrático. Regimes não democráticos têm sido a regra. Os períodos de democracia são exceção. E nunca se viveu um período tão longo como o atual. Em todo caso, corrupção sempre existiu, sempre houve patrimonialismo e clientelismo, herança dos nossos fundadores. Há tempos queríamos escrever algo parecido com este artigo, mas nos faltava tempo e disposição para elencar cronologicamente os fatos históricos, o que nos foi poupado por uma mensagem anônima de WhatsApp que me foi repassada pelo amigo Edson Paiva, a qual compartilhamos integralmente com o leitor ao final do post.

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