Quando o vírus chega, acaba o blá-blá-blá

Segundo os dados divulgados hoje pela Secretaria de Estado da Saúde, aqui em Roraima estamos com 1.984 casos de SARS-COV-2 confirmados, e 60 óbitos, numa taxa de letalidade de 3,024%. Considerando a população estimada em 605.761 habitantes, conforme o Tribunal de Contas da União para cálculo do PFE – Fundo de Participação dos Estados -, a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes está em 9,90 mortos por cada 100 mil habitantes.

Estatística do dia 18/05/2020

No Brasil estes números são: 254.220 casos confirmados; 16.792 óbitos – 6,61% de letalidade – e mortalidade de 8 pessoas para cada 100 mil habitantes. Estes dados podem ser acompanhados diariamente no Painel Corona Vírus, do Ministério da Saúde, onde há muitas outras informações e orientações.

Considerando que no mundo, hoje, foram confirmados 4.618.821 casos, para 311.847 mortes, temos uma taxa de letalidade de 6,75%. Na África, são 61.163 casos confirmados, para 1.748 óbitos – mortalidade de 2,86% – gritante subnotificação. Américas, hoje: 2.017.811 casos confirmados, para 121.609 mortes – 6,03%. E Europa: 1.890.467 confirmados, 167.173 mortos – letalidade de 8,87%. Também estes números são apresentados e discutidos na página da OPAS/Brasil.

Eu confesso, caro leitor, que acho os números alarmantes. E não sou pela relativização: achar que é uma boa notícia a taxa de mortos por milhão de habitantes no Brasil ser bem menor do que nos Estados Unidos, por exemplo. Entendo que com vidas humanas não se pode relativizar. Os mortos da COVID não podem ser instrumento de militância política.

Reitero que devemos considerar o “fator mágico”, que é, certamente, o alto nível de subnotificação no Brasil, na Região Norte e, cruelmente, aqui em Roraima. Então, a análise que fazemos aqui, considerando os números comparativamente, não é relativização da gravidade da doença, mas apenas método de análise dos números.

Para o Estado de Roraima – que é o foco desta nossa conversa, agora – os números são mais trágicos ainda do que para o resto do País, segundo os dados da própria Secretaria da Saúde. No painel do Corona Vírus, campo Síntese de casos, óbitos, incidência e mortalidade, vemos o seguinte quadro – os números foram acrescidos de outros valores:

UNIDADE Casos Óbitos Incidência/100 mil habitantes Mortalidade/100 mil habitantes Letalidade
Brasil 254.220 16.792 121,00 8,00 6,61%
RORAIMA 1.984 60 327,52 9,90 3,02%
Amazonas 20.913 1.433 504,58 34,60 6,85%
Norte 47.319 3.125 256,70 17,00 6,60%
Centro-Oeste 7.918 184 48,60 1,10 2,32%
Sul 11.270 356 37,60 1,20 3,16%
Nordeste 86.130 4.989 150,90 8,70 5,79%
Sudeste 101.583 8.138 115,00 9,20 8,01%

O ideal nesse tipo de análise é pegarmos as curvas de evolução/involução e fazer as devidas comparações. Fica pra próxima. Mas podemos ver que, em termos comparativos, Roraima só perde pro Amazonas e Região Norte – o Amapá e Pará também estão em alerta máximo, mas resolvemos por bem igualmente deixá-los para o próximo.

Nós ficamos com 327,52 infectados por 100 mil habitantes; 9,90 mortos também por 100 mil habitantes, e uma taxa de letalidade de 3,02% – ou seja, de cada 100 casos confirmados, 3 pessoas morreram. Considerando o geral, neste aspecto não estamos ruins. Mas aí vem o que mais me preocupa: a subnotificação. A começar pelo contingente populacional. O número de habitantes considerado pelo Ministério da Saúde é estimado pelo Tribunal de Contas da União. Neste caso, a população de Roraima seria de 605.761 habitantes. Quem mora aqui coçou a cabeça, com certeza, pois só a imigração venezuelana, nos últimos tempos, fez esse número acrescer substancialmente. Mas, como as nossas autoridades não se interessam por estatística, vamos recebendo menos FPE e FPM ao longo dos meses e anos, além das cota-partes dos auxílios financeiros, material e equipamento médico-hospitalar relacionados à COVID-19.

Além da questão populacional, temos também o aspecto quantitativo de casos comprovados. 1.984 casos estão muito aquém da realidade. Gostaria de fazer uma enquete, para efeito de amostra de quantas pessoas já procuraram os meios de Saúde a fim de comunicar sintomas da COVID-19 e foram mandadas de volta pra casa, e só voltarem se estiverem morrendo. Em um caso aqui na família, com plano de Saúde privada, o médico só prescreveu a realização do exame porque a pessoa demonstrou que é profissional de Saúde e poderia contaminar outros colegas, sendo que, provavelmente, teria sido contaminada no Hospital.

Um amigo, abastado, também com plano de Saúde particular, foi encaminhado para a realização do teste, mas só poderá fazê-lo cerca de oito dias após o início dos sintomas, pois há um “agendamento” do laboratório que presta serviço para o seu plano de Saúde. E depois de realizado o teste, são mais 08 dias úteis para sair o resultado. Ou seja, como ele próprio graceja: “Só quando eu já estiver curado. Ou morto!” – rezemos pela primeira alternativa.

Acabo de fazer um cálculo grosseiro, apurado uma média da taxa de mortalidade regional de 5,62%. Considerando este número, tendo em vista a taxa de 3,02% em Roraima, avalio que a população do Estado, incluindo a fixa e a flutuante, estaria em pouco mais de 1 milhão de habitantes, o que levaria os casos de contaminação pelo vírus a mais de 30 mil até hoje – incluem-se aí os sintomas leves e os assintomáticos. Não vou arriscar divulgar o número de mortos estimados, mas vai bem acima dos 60 consolidados hoje. O fato é que, até onde tive notícia, 56 militares da Operação Acolhida tinham sido contaminados. Com o R0 (transmissibilidade) do SARS-COV-2 igual a 3, pra ser otimista, então, numa primeira cadeia de transmissão teríamos 168 contaminados, entre militares e imigrantes venezuelanos. Na segunda cadeia teríamos 504, e na terceira 1.512, isto só entre componentes da Acolhida! Pelas condições que conhecemos dos abrigos, com aglomerações, esses números são otimistas, reitero. E quanto às populações rurais? Aos indígenas?

Enfim, leitor, vamos cair na real e imaginar nós, simples mortais, acometidos dos sintomas do vírus que nem os especialistas conhecem. Boa parte de nós já teve um parente, um amigo, que já apresentou os sintomas da doença – muita das vezes nós mesmos – sem sequer ter um disgnóstico atestado. Sem contar que, em boa parte dos resultados – 50%? – pode dar falso negativo, o que se recomenda repeti-li pelo menos mais uma vez. Mas quando…?? – como diz o paraense – já que não é possível fazer sequer o primeiro teste?

E quanto ao tratamento? Vai ser com cloroquina, hidroxicloroquina, anita, ivermectina, azitromicina? Não tem! Nem nas farmácias, nem na rede pública de Saúde. E o que tem é guardado a sete chaves para os casos mais graves. Além do mais, vai ter que ser automedicado. Aliás, por falar em casos graves, como está a disponibilidade de leitos com respirador no HGR? Um querido amigo meu está internado em hospital particular, em estado grave, aguardando a liberação de um leito da UTI do Hospital Geral. Até quando poderá esperar?

Então, meus amigos, essa discussão de quarentena horizontal, vertical, transversal, elíptica, redunda sendo uma estupidez sem medida. É claro que devemos cobrar das autoridades o equacionamento dos aspectos sanitário e econômico, ao contrário de eximirmos nas redes sociais o nosso político de estimação pelos seus erros e omissões. Bater boca se a cloroquina funciona ou não, se é melhor associar com a azitromicina… tudo isso vira balela quando nós, ou alguém próximo, começa a tossir, aumentar a temperatura, faltar o ar. O Bolsonaro, Denário, Tereza, Dória, Witzel, podem fazer quantos exames quiserem, no momento em que quiserem. De nada adiantam as discussões acaloradas, defendendo politicamente um ou outro. Precisamos ser racionais e buscar a solução para os casos concretos, solução essa que, aqui em terras de Macunaima, terminam no chá de alho com limão, no suco de laranja e na reza da benzedeira com ramo de vassourinha.

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