Novo Corona Vírus e o eixo Roraima-DF

Desde as últimas segunda e terça-feira os roraimenses têm se debatido contra a decisão prévia do presidente Jair Bolsonaro em não fechar as fronteiras do Brasil com a Venezuela e Guiana, por força da pandemia do COVID-19. No final da terça-feira, afinal, o chefe do Executivo federal decidiu pelo fechamento parcial da fronteira com a Venezuela, liberando apenas para o tráfego de mercadorias. Contudo, ao que pudemos avaliar das notícias divulgadas na imprensa nacional e local, apenas a fronteira com a Venezuela foi parcialmente fechada, ficando para livre trânsito a fronteira com a Guiana, que também deve ser fechada. Isto demonstra mais uma vez o que diz a canção interpretada por Elis Regina – que, aliás, ontem estaria completando 75 anos: “O Brasil não conhece o Brasil”.

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Um adeus…

 

 

 

 

 

Que seja breve esse adeus,
quando choraremos todas as lágrimas
e derramaremos todos os prantos

Que seja breve esse adeus,
pois a vida se nos mostra à frente,
seja na matéria, seja no espírito

Que seja breve esse adeus,
brando e pacífico, onde já não mais arde
o fogo intenso da paixão

Um adeus é sempre e tão somente adeus:
fecha a porta do passado
e abre a porta do futuro entregue a Deus…

Porta dos Fundos, Jesus Gay e a mediocridade contemporânea

Recentemente reli O Anticristo, de Nietzsche[1]. Devo ler uma terceira vez. Trata-se de uma contundente crítica ao cristianismo, mal interpretada por muita gente. É um livro curtinho, não mais de 70 páginas, ao todo. Mas o seu conteúdo é forte e envolvente, devendo ser lido com muita atenção. Foge aos tabus da crença e religião, vai direto à análise do pensamento ocidental que se moldou a partir da adoção do cristianismo como religião oficial do Estado romano. Peço desculpas ao leitor para transcrever a tradução do prefácio da obra:

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Rodrigo Janot e o crime que não cometeu

O estopim da Primeira Guerra foi um assassinato que, em si, não teria o condão de promover um conflito bélico de proporção mundial. E o assassinato de João Pessoa? Quem diria que um assunto de caráter estritamente pessoal envolvido em uma uma rixa política local iria assumir dimensão nacional e servir de justificativa para a Revolução de 1930, mudando completamente o eixo histórico do Brasil? Pois é! A História tem os seus caprichos. E se existe uma história caprichosa – e diria MARAVILHOSA! – é a história do Brasil, que o brasileiro, em geral, infelizmente, não conhece. Sugiro o canal do Eduardo Bueno no YouTube. E o momento que vivemos atualmente é um desses caprichosos episódios da história nacional, no qual, talvez, o presidente Jair Bolsonaro não seja o protagonista, mas sim o Supremo Tribunal Federal e o Sistema Judiciário, em tese, o último baluarte da República, que parece estar ruindo como uma casa velha. A minha esperança é a minha própria percepção, como diz o Eduardo Bueno, de que as forças armadas brasileiras são, essencialmente, legalistas. Mas seria viajar demais se sintetizasse uma ruptura em dois nomes: Janot e Gilmar?

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Aonde queremos chegar?

Como já publicado neste Blog, o Brasil jamais foi um país pacífico. Nossa história é lavada a sangue de Norte a Sul. Ledo engano de quem imagina que estamos em período de paz. Estamos em pleno estado beligerante e não é de hoje! E o pior: estamos em estado de guerra civil não somente em armas e subtração da vida humana, mas com suporte ideológico de movimentos que insistem na desestabilização das instituições, da República, para assumir o comando pleno da nação. O ideal de uma “ditadura do proletariado” está vivo e visivelmente toma os meios de comunicação formais e informais – redes sociais, sobretudo, elaborado e gerenciado por mentes que sabem muito bem o que estão fazendo e aonde querem chegar, mas infortunadamente veiculado por pessoas que, na grande maioria, não exercitam a capacidade de discernimento, seja por falta de instrução formal, seja por ingenuidade, dentre outros fatores inibidores do senso crítico.

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A inexorável efemeridade da vida – umas histórias da Boa Vista antiga

Gosto muito de imagens antigas, estáticas e em movimento. Gosto de músicas antigas. Às vezes sou tomado por nostalgias – isto mesmo: nostalgia no plural. Parece que vivi em várias épocas, em muitas épocas. Todas as épocas. E todas essas épocas às vezes parecem transpassar minha mente, num fluxo e refluxo.

Nasci em 1965 na cidade de Boa Vista, antigo Território Federal de Roraima, e muito, muito pobre. Vivíamos quase na idade média, naquele tempo. Sou da lamparina, do farol, da água tirada do Rio Branco, das lavagens de roupa no cais, no igarapé do Caxangá ou no igarapé do Pricumã. Eram os locais onde a minha avó lavava roupa, ela própria lavadeira profissional por um bom tempo, além de costureira. Criava galinha do quintal. Pato, porco, eventualmente cabrito. Fogão a lenha. Tinha o fogão grande, com chapa de ferro – onde a gente colocava a bunda da tanajura pra assar. E tinha o fogareiro, onde usava-se graveto e querosene para fazer o fogo do carvão pegar. Água dos potes – a minha avó tinha dois e uma bilha. Dos potes, ela achava que o de barro escuro era o que mais gelava. A água era retirado pelo púcaro, sempre bem ariado com areia – desculpem o pleonasmo – ou folha de caimbé.

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Militância burra e mau caráter – o caso da interceptação

Nos últimos meses autoridades governamentais, em especial o ministro da Justiça, Sérgio Moro, têm sido vítimas do site The Intercept, comandado pelo intitulado jornalista estadunidense Glenn Greenwald, que é um notório militante da “esquerda”. Não precisa recontar a história porque todo mundo já conhece. Mas em síntese, houve estardalhaço inicial, com o anúncio de matérias revelando, a conta-gotas, a imparcialidade do então Juiz Moro na condução dos processos da Operação Lava Jato. Enfim, foram sendo soltos, aos poucos, trechos de supostas conversas entre os membros do Ministério Público Federal, alguns apenas citando o então juiz, e umas poucas conversas, supostamente, do próprio então magistrado com os membros do MPF, especialmente com o chefe da equipe da Lava Jato, Procurador Deltan Dallagnol.

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Inflexão da Vida

A vida pode ser um portal pra liberdade
Ou uma jaula onde se reclui a alma
Num corpo horrendo, pesado, moldado
Pelos medos do inconsciente

O espírito, que era livre e independente,
Com o tempo torna ser acomodado
Nas convenções da velhice que acalma
Os desejos e anseios da tenra idade

Mas ainda, sob os elos da corrente
Que faz mórbida a mocidade,
Há a centelha do desbravador ousado

Aspirando voar sobre a cidade,
Sobre os campos e florestas, contente,
Sem medos, num unicórnio alado

Anaïs Nin

Tomei conhecimento da existência de Anaïs Nin (1903-1977) há muitos anos atrás, na década de 1990, quando, num dia qualquer, aluguei um filme cujo título era Henry e June. Gosto disso: ao acaso, encontrar filmes maduros que retratam a natureza humana. Filmes que me marcam pelo resto da vida – da vida consciente, ao menos. Invariavelmente são películas derivadas da literatura. Gostei tanto do filme que resolvi ler o livro.

Henry e June é a versão cinematográfica de um período (1931-1932) do diário pessoal de Anaïs, quando conheceu e começou seu relacionamento extra-conjugal com o também escritor Henry Miller. June era a esposa dele na época, quando viveram um triângulo (ou quadrado) amoroso.

Além de Henry e June, li outros livros de Anaïs e, por causa dela, cheguei a Henry Miller (1891-1980). Os dois têm estilos semelhantes, cujas obras são autobiográficas. Sem dúvida formaram um casal. Apesar de amantes por uma vida, nunca se juntaram. Ela, após a morte do marido Hugo, casou-se novamente. Além de Henry, e durante Henry , teve vários outros amantes – ao que pude entender, com a conivência do marido, que também fazia das suas. No filme, é interpretada pela atriz portuguesa Maria de Medeiros – que guarda impressionante semelhança física.

O que me chama a atenção em ambos – Anaïs e Henry – é a determinação em escrever. Ela era de família abastada, casou com um homem bem sucedido na carreira profissional, nunca passou necessidades. Henry sim, durante algum tempo. Mas para ambos, tato fazia. A literatura, a vontade de escrever estava acima de tudo.

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Maiakóvski, o poeta da revolução

Não, não vou falar da poesia de Maiakóvski,
nem da sua biografia, muita menos da sua prematura morte.
Não vou dizer que ele apertou o gatilho,
ou algum camarada por ele o fez, por sua vontade,
contra sua vontade, tanto faz.
O fato é que a bala estourou seus miolos
num gesto de misericórdia, sublime desatar da alma.
A revolução mata seus próprios filhos.